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Delegado diz que protocolo de investigação não foi seguido em operação no Rio

por Bia Abramo
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Por Aléxia Sousa e Bruna Fantti

(Folhapress) – Em depoimento prestado ao Ministério Público do Rio de Janeiro, o delegado Alexandre Herdy, da Delegacia de Homicídios da Capital, afirmou que protocolos básicos de investigação não foram cumpridos durante a megaoperação policial realizada nos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte do Rio, em 28 de outubro. A ação, que deixou 121 mortos, entre eles quatro policiais, é considerada a mais letal do país.

De acordo com o depoimento, incluído em documento enviado pela promotoria ao STF (Supremo Tribunal Federal), Herdy relatou que não foi possível identificar todos os policiais que participaram das trocas de tiros, pois muitos agentes precisaram retornar à operação antes de fornecer seus dados.

O delegado afirmou ainda que diversos corpos foram levados a hospitais por policiais que não se apresentavam às equipes da delegacia nem indicavam o local onde os confrontos ocorreram — o que, segundo ele, dificultou a coleta de provas e o cumprimento do protocolo de preservação de cena.

“Os policiais estavam saindo do hospital e retornando para a operação sem prestar as informações necessárias, o que impossibilitou a identificação imediata de quem estava envolvido nas mortes”, disse Herdy no relato.

O delegado afirmou que, diante do grande número de ocorrências, a Delegacia de Homicídios não conseguiu acompanhar as remoções nem realizar perícias no local, como prevê a norma para casos de mortes decorrentes de intervenção policial.

Megaoperação policial realizada nos complexos do Alemão e da Penha em 28 de outubro deixou 121 mortos

Vítimas foram socorridas sem identificação em operação

A informação foi enviada ao STF dentro de um relatório do Gaesp (Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública), que detalha as primeiras diligências abertas para apurar possíveis irregularidades na operação.

O material indica que o Gaesp requisitou às polícias Civil e Militar a lista nominal de todos os agentes que participaram da ação, cópias das gravações das câmeras corporais (COPs), relatórios de munição e o planejamento tático da incursão.

O Gaesp também informou que, diante das denúncias de abusos e do elevado número de mortos, instaurou um procedimento específico para acompanhar as investigações da delegacia. A Promotoria aponta que “há indícios de descumprimento dos protocolos estabelecidos na ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) das Favelas”, decisão do STF que determinou a adoção de regras mais rígidas para operações policiais em comunidades do Rio.

O documento cita que parte das vítimas foi socorrida sem identificação e que “houve dificuldade de registro e preservação das cenas”, com casos de corpos abandonados em unidades de saúde por agentes não identificados. Segundo o Ministério Público, isso compromete a rastreabilidade das ações e a apuração individual de responsabilidades.

Além do depoimento de Herdy, o material encaminhado ao Supremo reúne relatos da Defensoria Pública e da Ouvidoria de Polícia sobre o uso desproporcional da força, invasões de residências e falhas na comunicação com os órgãos civis de controle.

O Ministério Público afirma que, até o momento, nenhuma das investigações sobre as mortes foi concluída, e que as análises das câmeras corporais e das armas empregadas ainda estão em andamento.

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