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Defensoria aponta más condições para idosos na Papuda, que pode receber Bolsonaro

por Ayam Fonseca
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Por Marianna Holanda

(Folhapress) – A Defensoria Pública do Distrito Federal produziu um relatório neste mês que apontou superlotação e más condições para idosos na Papuda, presídio onde o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pode cumprir pena em regime fechado, embora em outra ala.

Os defensores registraram 340 pessoas para 177 vagas na ala de idosos — 92% presos além da capacidade. Foram encontrados idosos com mais de 80 anos dormindo em colchões no chão, conforme relatório obtido pela reportagem.

Condenado a 27 anos e três meses por liderar a trama golpista, Bolsonaro pode ter de cumprir pena em regime fechado no presídio, caso o STF (Supremo Tribunal Federal) não aceite o recurso final da defesa.

Bolsonaro tem 70 anos e, se fosse um preso comum, poderia ser enviado para a ala inspecionada pelos defensores. Mas os espaços visitados pela chefe de gabinete do ministro Alexandre de Moraes são outros: o PDF 1 (Penitenciária do Distrito Federal número 1), onde uma das alas é destinada a abrigar presos que apresentam vulnerabilidade e onde políticos já ficaram presos; e o 19º Batalhão de Polícia Militar do Distrito Federal — conhecido como “Papudinha”, por ficar em frente à Papuda.

O ex-presidente está em prisão domiciliar desde agosto. Sua defesa alegará o quadro de saúde debilitado para evitar que ele cumpra regime fechado fora de casa.

Inspeção da Defensoria

A inspeção da Defensoria ocorreu no último dia 6 de novembro. O documento será enviado para todos os órgãos da execução penal e para o CNJ (Conselho Nacional de Justiça). Relatórios de períodos anteriores também já haviam apontado problemas na ala para idosos na Papuda.

A área verificada é maior do que apenas a ala dos idosos, e é chamada de CIR (Centro de Internamento e Reeducação), que abriga pessoas em situação de privação de liberdade em regime semiaberto. Contando todos os blocos e alas, incluindo a dos idosos, a superlotação é ainda maior, de 98%.

No quadro de más condições, o relatório registrou queixas da falta de materiais de higiene, da demora na prestação de atendimento médico, muitas celas abafadas e sem ventilação, além da baixa quantidade de policiais penais.

Complexo Penitenciário da Papuda (Foto: Reprodução)

“Um cenário de extrema superlotação no bloco voltado aos idosos, com cerca de 38 pessoas por cela, as quais contavam com apenas 21 camas. O restante das pessoas lá alocadas pernoita no chão, em colchões — os quais também são objeto de inúmeras reclamações dos presos, especialmente em razão da espessura –, ou em redes, havendo relatos, inclusive, de acidente com um interno idoso que fraturou a perna ao cair da rede”, diz trecho do relatório.

Por outro lado, a ala dos idosos é a única que tem água aquecida para banho, dois ventiladores por cela e televisão.

A Defensoria recomenda medidas para conter a superlotação do local, como ampliação de saídas antecipadas e progressão de regime, “garantindo equilíbrio entre os fluxos de entrada e saída do sistema prisional, priorizando-se as unidades de semiaberto e sobretudo a ala dos Idosos do CIR.”

Eles também pedem a realização de mutirão de atendimento de saúde, priorizando os presos com comorbidades, idosos e maiores de 80 anos. Além disso, sugerem melhoria na fiscalização da alimentação e da estrutura das celas.

O relatório também foi encaminhado pelo deputado distrital Fábio Félix (PSOL), presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos, para o CNJ. Segundo sua equipe, ainda será encaminhado para a Secretaria de Administração Penitenciária do DF.

O parlamentar pede que o Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário acompanhe o cumprimento da saída antecipada e da prisão domiciliar humanitária dos idosos e doentes graves do local. Também solicita a efetividade das políticas de progressão de regime, reintegração social e limitação da ocupação da ala dos idosos, entre outros pontos.

No documento, Félix cita as declarações recentes do governador Ibaneis Rocha (MDB) e de sua vice, Celina Leão (PP), sobre o presídio não ter condições de receber idosos, sem mencionar diretamente Bolsonaro.

“Acrescenta-se que, nas manifestações públicas recentes, tanto o governador Ibaneis Rocha quanto a vice-governadora Celina Leão reconheceram a absoluta inadequação da infraestrutura da Papuda para abrigar pessoas idosas e doentes graves, o que reforça a premência da adoção de medidas isonômicas para toda a população prisional vulnerável”, afirma.

O governador do Distrito Federal disse à reportagem nesta semana não poder garantir que o presídio da Papuda tenha condições de receber Bolsonaro por desconhecer o quadro de saúde do ex-presidente.

“Não posso garantir. Nós não conhecemos as condições de saúde dele”, disse o governador, ao ser questionado se o presídio teria condições de receber Bolsonaro e se responsabilizar por ele.

Sobre a possibilidade de o Governo do Distrito Federal recorrer de eventual decisão da corte nesse sentido, Ibaneis disse que a decisão é do Supremo e da Vara de Execuções Penais e que só cabe à Secretaria de Administração Penitenciária de Brasília cumpri-la.

A pasta enviou, na semana passada, um ofício a Moraes, solicitando que o ex-presidente faça uma avaliação médica para verificar sua condição de ser mantido em presídios da capital federal.

Mas o magistrado viu “ausência de pertinência” no pedido e indicou que só deve analisá-lo após o fim do processo da trama golpista.

A vice-governadora esteve com Bolsonaro em 15 de agosto. À época, ela não se manifestou, mas, em entrevista ao SBT News na segunda-feira (11), ela disse que a Papuda não teria condições de receber o ex-presidente.

“A Papuda não tem condição de receber o Bolsonaro. Ele precisa de uma dieta especial, tem idade avançada, trata-se de um ex-presidente. Se for bem cuidado, vai ter uma vida prolongada”, afirmou.

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