Casa EconomiaDatafolha: Operação mais letal foi sucesso para 57% dos moradores do Rio

Datafolha: Operação mais letal foi sucesso para 57% dos moradores do Rio

por Schirlei Alves
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Por Igor Gielow

A operação policial mais letal da história do Rio, que deixou ao menos 121 mortos na terça-feira passada (28), foi vista como um sucesso por 57% dos moradores da capital e da região metropolitana da cidade. Outros 39% pensam o contrário.

A avaliação havia sido feita pelo governador Cláudio Castro (PL), ao comentar a ação contra a facção criminosa Comando Vermelho, que desencadeou um forte embate político entre as forças políticas de direita e o governo Lula (PT) acerca do manejo da segurança pública na cidade e no país.

O dado foi aferido pelo Datafolha em uma pesquisa feita por telefone com 626 eleitores, ouvidos na quinta (30) e na sexta (31). A margem de erro para o total da amostra é de quatro pontos percentuais para mais ou menos, o que permite dizer que a maioria dos entrevistados aprovou a ação.

Consideraram a ação bem-sucedida de forma integral 38%, mais 18% que a aprovaram parcialmente —os 57% aferidos são arredondamento de casas decimais. Na mão inversa, 27% disseram discordar totalmente da assertiva, e 12% apenas em parte. Outros 3% não se posicionaram e 2% não souberam responder.

Aprovação à operação divide opiniões por gênero e faixa etária

Há homogeneidade nas opiniões expressas em todos os principais estratos socioeconômicos do levantamento, com algumas exceções: homens aprovaram mais a ação, 68% ante 47% das mulheres, enquanto a classe média que ganha de 5 a 10 salários mínimos e jovens de 16 a 24 anos foram mais enfáticos em condená-la: acharam isso respectivamente 49% e 59% dos ouvidos.

É importante notar que nesses subgrupos a margem de erro é um pouco maior. São 6 pontos para homens e mulheres, 7 para a classe média e 11 para quem tem de 16 a 24 anos.

Moradores de favelas seguiram a média das avaliações da cidade, assim como não houve diferenças notáveis entre regiões mais ricas ou pobres. As comunidades do Alemão e da Penha concentraram o embate da terça.

Para 48% dos fluminenses ouvidos, a operação foi também bem executada. Já 21% viram uma ação com falhas e 24% a reprovaram. Outros 7% disseram não saber.

Aqui, a discordância mais chamativa em relação à média, mesmo levando em conta as margens de erro maiores, fica entre os pretos, entre os quais 43% consideraram a ação mal executada. No grupo, a margem é de nove pontos.

Para 50% dos entrevistados, a maioria dos mortos que não eram policiais era composta por bandidos. Outros 31% disseram acreditar que todos eles eram criminosos, enquanto só 4% disseram que a minoria era inocente e 1%, que todos eram inocentes. Não souberam avaliar 13%. Segundo o governo, 78 dos 119 suspeitos tinham passagem pela polícia.

Isso leva água para o moinho da direita, que tem focado seu discurso na defesa da operação e no endurecimento no trato da criminalidade, uma bandeira histórica do campo que foi levada ao paroxismo retórico nos anos de Jair Bolsonaro (PL) no poder, de 2019 a 2022.

Lula tem tentado reagir, apesar da filiação histórica da esquerda com o ativismo de direitos humanos visto como leniência com os criminosos pelos seus adversários, tentando avançar uma agenda de legislação sobre segurança pública.

Na sexta, o presidente enviou ao Congresso o projeto da Lei Antifacção, que prevê mudanças na lei penal que lida com entes como o Comando Vermelho e o Primeiro Comando da Capital, que têm dominado o crime organizado no país, infiltrando-se em negócios legítimos como a distribuição de combustível, além do usual tráfico de drogas.

Com efeito, quando o Datafolha cruza as opiniões com a declaração de voto no segundo turno presidencial de 2022 entre Lula e Bolsonaro, as divisões da polarização que tem marcado a política brasileira ficam claras.

Entre aqueles que votaram no petista no Rio, 67% desaprovaram a ideia de que a operação tenha sido um sucesso. Já 83% dos eleitores do ex-presidente concordam com a avaliação. No estado todo, Bolsonaro teve 56,53% dos votos válidos, ante 43,47% de Lula.

O estado é um bastião bolsonarista e usual palco de manifestações em favor do ex-presidente. Castro, que chegou ao poder herdando o cargo de Wilson Witzel (PSC), afastado e depois objeto de impeachment em 2021, é um apoiador de Bolsonaro e teve 58,67% dos votos ao ser reeleito no primeiro turno de 2022.

O instituto também resgatou a clássica frase “bandido bom é bandido morto” e questionou os fluminenses sua opinião sobre ela. O resultado foi uma divisão, com 51% concordando com a afirmação e 46%, discordando.

Pessoas durante manifestação contra a operação policial Contenção no Rio de Janeiro. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Mesmo entre apoiadores, há críticas

Mas há nuances no que pode parecer uma chancela completa à mão pesada do estado. Para 73%, é errado dizer que quem sempre morre em operação policial é bandido, enquanto 23% disseram acreditar nisso.

Além disso, 77% dos entrevistados afirmaram que é mais importante priorizar a investigação de crimes do que simplesmente matar os criminosos, algo defendido por 20%. Ainda segundo dados do governo, só seis dos mortos tinham mandado de prisão na operação.

Tais percepções têm se refletido na abordagem mais cautelosa no apoio a Castro por presidenciáveis da direita, como os governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e Ratinho Jr. (PSD-PR).

O primeiro participou do lançamento do Consórcio da Paz, grupo que reúne os governantes estaduais de oposição a Lula para discutir assuntos ligados à segurança pública, e o segundo não apareceu.

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