Casa EconomiaCorrida do ouro chinês: Pequim desafia domínio financeiro dos EUA

Corrida do ouro chinês: Pequim desafia domínio financeiro dos EUA

por Adriana Cardoso
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A disparada histórica do ouro — que ultrapassou os US$ 4.000 por onça — reacendeu um movimento estratégico silencioso, mas consistente, liderado pela China: a tentativa de remodelar a ordem financeira internacional. Com uma política de acúmulo de reservas douradas ao longo da última década, Pequim vê no ouro não apenas uma reserva de valor, mas uma peça-chave para fortalecer sua moeda, impulsionar Hong Kong como hub financeiro e reduzir a dependência do dólar.

Essa estratégia ganhou tração em meio a tensões geopolíticas crescentes, uso mais agressivo de sanções por parte dos EUA e incertezas sobre a estabilidade fiscal em Washington. Ao mesmo tempo, investidores ao redor do mundo migraram para ativos considerados mais seguros, como ouro e criptomoedas, em meio à instabilidade das moedas tradicionais.

A experiência russa após a invasão da Crimeia e, mais recentemente, com a guerra na Ucrânia, serviu de alerta e inspiração para Pequim. O ouro acumulado pelo Banco Central russo — que dobrou de valor desde o início do conflito — permitiu a Moscou resistir ao congelamento de reservas em moeda estrangeira.

A China, atenta, intensificou suas compras: já são 11 meses consecutivos de aumento das reservas, com o volume oficial ainda representando apenas 9% do total — contra uma média global de 20%.

Modelo do ouro de Londres inspira avanço da China

O exemplo de Londres — maior centro de negociação de ouro do mundo — serve como referência clara para os planos chineses. Ao replicar o modelo de custódia de ouro estrangeiro, a China tenta se firmar como guardiã de reservas internacionais. Já há convites formais para que bancos centrais armazenem seus ativos nos cofres da Bolsa de Ouro de Xangai, e, futuramente, negociações e empréstimos do metal em formato de bullion podem ser implementados.

Embora ainda atrás em liquidez e volume em relação a Londres e Nova York, a China já registra avanços.

A iniciativa está em linha com o desejo de países que buscam maior autonomia em relação ao sistema financeiro liderado pelo Ocidente, como membros do Brics (grupo originalmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e economias emergentes da Ásia e África.

Diante desse cenário, o preço do metal pode continuar subindo. Segundo estimativas do Goldman Sachs, uma simples migração de 1% das aplicações privadas em títulos do Tesouro dos EUA para ouro poderia levar a cotação a US$ 5.000 por onça. Uma mudança desse porte reforçaria ainda mais a posição chinesa no mercado.

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