Os Correios decidiram fatiar a contratação de um empréstimo de R$ 20 bilhões, destinado a socorrer a estatal em meio a uma crise financeira crescente. A ideia é atrair mais instituições financeiras e reduzir os custos de financiamento, ao mesmo tempo em que se evita questionamentos futuros sobre a operação.
O plano de reestruturação dos Correios foi apresentado a representantes do TCU (Tribunal de Contas da União) no dia 5 de novembro. O encontro foi realizado na sede do Tribunal, em Brasília, e teve a participação do presidente da estatal, Emmanoel Schmidt Rondon, por videoconferência, e de sua equipe. A operação de crédito no valor de R$ 20 bilhões tem garantia do Tesouro Nacional.
Na primeira rodada de negociações, um sindicato de quatro bancos — Banco do Brasil, BTG Pactual, Citibank e ABC Brasil — aceitou conceder o crédito, mas a taxa de juros proposta de 136% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário) foi considerada elevada para um empréstimo com garantia soberana, que teoricamente reduz o risco de perdas, pois a União garante o pagamento em caso de inadimplência.
A contratação do financiamento é crucial para dar fôlego ao caixa da empresa, que acumula prejuízos crescentes desde 2022. Só em 2025, o déficit dos Correios deve alcançar R$ 10 bilhões — sendo R$ 4,4 bilhões no primeiro semestre.
Projeções da própria estatal indicam que, sem recursos adicionais, o rombo pode chegar a R$ 20 bilhões em 2026 e até R$ 70 bilhões em cinco anos, cenário que poderia levar a empresa à falência e a custos extras com demissões.
Pulverização do empréstimo aos Correios como saída
Diante do custo elevado da primeira proposta e da taxa de comissão de 5% (equivalente a R$ 1 bilhão, bem acima do usual 1%), os Correios decidiram abrir uma nova rodada de negociações. O objetivo é perguntar às instituições financeiras quanto cada uma estaria disposta a emprestar a um custo máximo de 120% do CDI, permitindo que o socorro seja pulverizado em várias operações.
Se o volume oferecido não atingir os R$ 20 bilhões, a empresa poderá contratar inicialmente parte do valor e retornar ao mercado mais adiante para completar o financiamento. A expectativa é que a operação seja concluída até o fim de 2025, mesmo com alguns atrasos no pagamento a fornecedores, sem risco de impacto nos salários.
Pressão política e desafio da gestão
A decisão de colocar a União como fiadora, em vez de fazer aporte direto, já atraiu atenção de órgãos de controle e parlamentares da oposição, e pode se tornar alvo de críticas caso o custo do empréstimo se mantenha elevado.
A Caixa Econômica Federal, que inicialmente participaria do sindicato de bancos, não enviou proposta. A resistência era atribuída a dificuldades técnicas e a tensões internas relacionadas à sucessão na presidência dos Correios.
O plano de reestruturação da estatal é visto como ponto central para que os bancos avaliem a capacidade de pagamento e a viabilidade do empréstimo, refletindo problemas estruturais de gestão e aumento sequencial de custos da empresa.