Em uma sessão marcada por tensão, o Congresso do Peru decidiu, na madrugada desta sexta-feira (10), destituir a presidente Dina Boluarte. A medida, aprovada por unanimidade, baseou-se na acusação de “incapacidade moral”, após o avanço de investigações de corrupção envolvendo a mandatária. A decisão encerra um governo de menos de três anos, marcado por escândalos, impopularidade e sucessivas crises políticas.
Logo após a votação, o chefe do Parlamento, José Jerí, foi empossado como novo presidente interino do país, em uma cerimônia realizada ainda na madrugada. Aos 38 anos e membro do partido conservador Somos Peru, Jerí prometeu buscar “reconciliação nacional” e enfrentar a criminalidade crescente. “O principal inimigo está lá fora, nas ruas: as gangues criminosas”, declarou em seu discurso de posse.
O pedido de afastamento, assinado por 34 parlamentares de diferentes legendas, citava graves denúncias de corrupção contra Boluarte, incluindo o escândalo conhecido como “Rolexgate”. A investigação teve início após uma reportagem do programa “La Encerrona”, que revelou o uso de relógios de luxo não declarados pela então presidente em eventos oficiais, o que levantou suspeitas sobre enriquecimento ilícito.
Após a decisão, multidões se reuniram em frente ao Congresso, em Lima, e nas imediações da embaixada do Equador, onde circulavam rumores de que Boluarte poderia pedir asilo político. Segundo a agência Associated Press, o clima nas ruas era de celebração, com bandeiras, danças e instrumentos musicais.
Em um pronunciamento à nação após a votação, Boluarte afirmou que sempre agiu pensando no país:
“Não pensei em mim mesma, mas nos peruanos”, disse ela.
José Jerí, de 28 anos, assumiu como presidente interino após saída de Dina Boluarte (Foto: AFP / John Reyes)
Quem é Dina Boluarte
Boluarte, de 63 anos, havia assumido o poder em dezembro de 2022, após a destituição e prisão de Pedro Castillo, que tentou dissolver o Congresso. Sua gestão foi marcada por forte rejeição popular, com índices de aprovação entre 2% e 4%, e por protestos massivos — mais de 500 manifestações ocorreram nos primeiros três meses de governo, especialmente em regiões andinas e indígenas, duramente reprimidas, segundo entidades de direitos humanos.
Além do Rolexgate, Boluarte enfrentava denúncias de enriquecimento ilícito e críticas por dobrar o próprio salário em julho deste ano. Em seu último discurso público, na quarta-feira (8), ela atribuiu parte da crise de segurança à imigração ilegal, afirmando que “governos anteriores não conseguiram combater” o problema.
Os índices de violência no país cresceram durante seu mandato: 6.041 pessoas foram assassinadas entre janeiro e meados de agosto, o maior número para o período desde 2017. As denúncias de extorsão também dispararam, com 15.989 casos registrados até julho, um aumento de 28% em relação ao mesmo período de 2024.
Histórico do Peru
O novo presidente, José Jerí, será o sétimo líder peruano desde 2016. Ele permanecerá no cargo até as eleições gerais de abril de 2026, quando, segundo afirmou, pretende entregar o poder “ao vencedor legítimo das urnas” e “defender a soberania do Peru”.
O país vive mais um capítulo de instabilidade política, com quatro ex-presidentes presos e sucessivas trocas de comando que abalam a confiança das instituições peruanas.