Por Santiago Gómez*
Uma coisa que não consigo entender até hoje, como é que Argentina, com um PIB quatro vezes menor que o do Brasil, consegue garantir ingresso livre e de graça nas universidades públicas, e o Brasil não? Quanto custam as faculdades particulares? Quanto ganham os donos das universidades que têm alunos do PROUNI? Qual o motivo pelo qual alguém seria contra o ingresso livre nas universidades?
Mesmo que 43% dos estudantes saiam no primeiro ano, como acontece na Argentina, você melhora o nível da sua cidadania. Essa pessoa é uma trabalhadora com uma formação superior. A pessoa que passou pela universidade ampliou sua leitura da realidade. Um terço dos estudantes de medicina na Argentina são brasileiros. A maioria filhos de bolsonaristas. Eles apoiam Milei taxar aos estudantes estrangeiros. Falam mal do peronismo, sem saber que foi Perón quem abriu as portas da universidade para os filhos da classe trabalhadora. Tinha problemas de pobres para resolver, assim que colocou pobres para pensar como resolver o problema, justificou. A pauta pelo passe livre à universidade colocou Gabriel Boric na presidência do Chile.
Porque passe livre nas universidades não é pauta da esquerda? A juventude não iria para rua se Lula chamasse, dizendo que os impostos aos BBB, será para liberar ingresso à universidade pública? Os pais, as mães, não iriam para rua se Lula dissesse passe livre na universidade? 20.000 brasileiros e brasileiras estudam nas universidades federais argentinas, 60% faz Medicina. Com 3.000 reais por mês conseguem viver bem. Estudar sem trabalhar. Eu não sei o que é isso. A maioria não sabe o que é isso nas universidades públicas argentinas. A maioria estuda entre 18h e 23h. Esses diplomas de medicina deverão ser revalidados no Brasil. A corporação médica brasileira colocou em dúvida a capacidade dos médicos cubanos.
Os bolsonaristas que mandaram seus filhos se formar na Argentina, vão ficar do lado das corporações ou apoiar a regulamentação do decreto de 2014 pelo qual eram reconhecidos os diplomas da área de saúde das universidades dos países do Mercosul? Claro que é preciso um consenso mínimo de formação. Pode ser só de públicas diretamente. Na Argentina, universidades que não tem um ciclo básico comum, que nem a UBA, lidam com as diferenças do nível educativo dos estudantes brasileiros. O CBC da UBA, é um ano que equilibra o nível, porque é um primeiro ano em que os jovens têm uma introdução ao pensamento científico, um mínimo de história nacional, e quatro disciplinas a mais do curso escolhido. Antes de ingressar nas faculdades, o CBC é uma adaptação ao ritmo universitário, para quem vem da educação pública.
Vivemos um tempo em que à maioria não acredita na política. Precisamos valorizar a política de novo. A educação continua sendo um problema no Brasil. Dos cinco pontos propostos por Dilma após as manifestações por Passe Livre, só não conseguiu a reforma política. Os royaltties do pré-sal para educação sumiram assim que deram o golpe. Se tem coisa que não falta no Brasil é dinheiro, o problema é que não está bem distribuído. Como é que Argentina consegue garantir universidade de graça para os argentinos e o Brasil não?
O orçamento argentino para universidades públicas é perto de R$16 bi, para 2 milhões de estudantes em universidades públicas, R$80.000 reais por aluno. Na Argentina 120.000 são estudantes estrangeiros. O orçamento discricionário para universidades federais no Brasil em 2024 foi R$6bi. O Brasil também tem 2 milhões de alunos matriculados em universidades públicas, mas enquanto Argentina são 45 milhões de pessoas, o Brasil tem 213,4 milhões de habitantes. O governo precisa dizer ao povo o que vai fazer com o dinheiros dos BBB. Acho que a esquerda tomar a pauta de passe livre nas universidades, uniria à população brasileira no apoio a uma pauta de governo.
*Mestre em Letras UFSC e licenciado em Psicologia UBA.