ouça este conteúdo
00:00 / 00:00
1x
Desde que iniciamos a Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa, em 2008, uma pergunta sempre aparece: “quais as motivações para os ataques de intolerância religiosa contra as religiões de matrizes africanas?”
Obviamente, não temos como dar uma resposta pronta e acabada sobre os casos de violência. Mas, podemos pontuar que ainda existe um grande silenciamento por parte dos órgãos de segurança pública de administração municipal e estadual sobre os fatos.
Do ponto de vista histórico, os “conflitos e disputas” religiosos nunca deixaram de fazer parte das transformações sociais. Sim, nunca deixaram porque não existe uma unicidade sobre religiões e religiosidades, seja aqui no Brasil ou em qualquer outra parte do mundo.
Mas, no Brasil, os conflitos religiosos, ou melhor, a INTOLERÂNCIA religiosa sempre esteve de mãos dadas com o racismo e todas as formas de preconceitos.
A intolerância religiosa contra os adeptos das religiões de matrizes africanas está intimamente ligada à gênese da formação e transformações da sociedade brasileira.
No Brasil, a intolerância religiosa sempre esteve de mãos dadas com o racismo e todas as formas de preconceitos
Na década de 1980, os ataques e atos de intolerância, principalmente no cenário do estado do Rio de Janeiro, passaram a ser praticados pelo poder paralelo, proibindo o funcionamento dos templos religiosos de matrizes africanas dentro das comunidades e favelas. Identificando-se com “traficantes evangélicos”, obrigavam o fechamento dos terreiros religiosos. Esta triste realidade vem se intensificando.
Como já pontuado outrora, tivemos avanços significativos no combate à intolerância, como a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), que tem como objetivo combater os crimes de racismo, homofobia, preconceito e intolerância. Entretanto, ainda precisamos investir e instrumentalizar, com uma pedagogia descolonizadora e antirracista, voltada para as diversidades e pluralidade, os agentes de segurança públicas para que possam, de forma isonomica, receber as informações e denuncias sobre tais crimes sem estar munido de preconceito.
Acredito que a intolerância religiosa e o racismo não é um “problema” que precisa ser pensado apenas pelas vítimas desses crimes, pois são questões de interfaces social, política, econômica e religiosa, e precisa ser debatido em todas as esferas desses poderes.