Casa EconomiaCom Trump e tarifas, FMI e Nobel projetam década de incertezas econômicas

Com Trump e tarifas, FMI e Nobel projetam década de incertezas econômicas

por Adriana Cardoso
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O movimento dos Estados Unidos em direção ao protecionismo, intensificado durante o governo de Donald Trump, tende a redesenhar profundamente a economia global na próxima década. A avaliação é de James Robinson, ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 2024, que participou na terça-feira (14) do evento Global Voices 2025, promovido pela CNC (Confederação Nacional do Comércio), em São Paulo.

Segundo Robinson, as tarifas impostas aos parceiros comerciais, aliadas a outras mudanças estruturais em curso nos EUA sob Trump, sinalizam uma guinada difícil de ser revertida. “Os EUA estão desfazendo muitas das características que os tornaram uma das economias mais dinâmicas do mundo nos últimos 200 anos”, afirmou.

O presidente da CNC, José Roberto Tadros, entre os ganhadores do Prêmio Nobel de Economia Paul Michael Romer (à esq.) e James Robinson (à dir.)

Entre os fatores apontados, ele destaca a redução da receptividade a talentos estrangeiros nas universidades americanas – um dos motores da inovação e da prosperidade do país.

“Estamos num momento de reorganização e reconfiguração. Isso gera incertezas, mas também oportunidades”, disse Robinson, que dividiu o Nobel com os economistas Daron Acemoglu e Simon Johnson por seus estudos sobre instituições e prosperidade.

Crescimento dos EUA sob Trump em meio ao paradoxo

Apesar da guinada isolacionista, a economia norte-americana ainda não sofreu um baque severo. O país “tropeçou”, mas continua crescendo, impulsionado pelos investimentos trilionários em inteligência artificial e setores relacionados. O FMI (Fundo Monetário Internacional) projeta um crescimento do PIB de 2% para 2025 – menos do que os 2,8% registrados em 2024, mas ainda acima do esperado anteriormente.

Contudo, as marcas da “revolução de políticas” de Trump – como descreve a diretora-geral do FMI, Kristalina Georgieva – já estão provocando impactos no potencial de crescimento dos EUA, sobretudo em produtividade e integração global. O cenário é agravado por um endividamento público crescente e receios de instabilidades no sistema financeiro, como uma possível bolha no setor de tecnologia e riscos à independência do Federal Reserve, o banco central estadunidense.

O último relatório Perspectiva Econômica Mundial do FMI reflete a perplexidade diante desse novo contexto. Enquanto bancos e grandes corporações mantêm lucros robustos e adaptam-se com agilidade – antecipando tarifas, reorganizando cadeias produtivas e investindo em inovação –, as tensões geopolíticas, o risco de fragmentação comercial e as desigualdades estruturais mantêm um pano de fundo de incerteza.

Além disso, as tarifas impostas pelos EUA, embora menores do que o esperado, ainda não desencadearam uma guerra comercial formal. A maioria dos países tem optado por não retaliar, o que ajuda a preservar a estabilidade no curto prazo, mas também pode mascarar desequilíbrios mais profundos.

“Há motivos para a economia ainda não ter caído. Mas esses mesmos motivos são fios desencapados, à beira de curtos-circuitos”, sintetiza o diagnóstico.

Não retaliar tem ajudado economia global, diz diretora do FMI

Em discurso recente na reunião anual do FMI e do Banco Mundial, Kristalina Georgieva destacou que a decisão da maioria dos países de não responder com retaliação às tarifas americanas tem, até o momento, ajudado a manter a resiliência da economia global.

“O mundo, até agora, optou por não retaliar e continuar a comercializar praticamente com as regras que existiam”, afirmou Georgieva. “Isso é uma aposta — uma aposta muito grande. Se funcionar, veremos aumento na produtividade e no crescimento. Mas se demorar a se concretizar, ou não se materializar? O que acontece então?”, pontuou.

A incerteza permanece, e o sucesso dessa estratégia depende da capacidade das economias globais de se adaptarem sem abrir mão da cooperação multilateral.

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