Casa EconomiaCom aumento das manifestações, presidente do Peru declara estado de emergência em Lima

Com aumento das manifestações, presidente do Peru declara estado de emergência em Lima

por Felipe Rabioglio
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José Jerí, presidente interino do Peru, anunciou na noite de terça-feira (21) a decretação de estado de emergência por 30 dias em Lima, em meio à escalada da violência e à crescente pressão popular nas ruas. A medida entrou em vigor à meia-noite, no horário local (2h em Brasília), e suspende temporariamente alguns direitos constitucionais, como liberdade de reunião e inviolabilidade de domicílio.

O decreto ocorre após uma semana de protestos intensos organizados por jovens da Geração Z, que vêm tomando as ruas da capital para denunciar o aumento da criminalidade e exigir mudanças políticas profundas, como a saída do presidente interino, o fechamento do Congresso, a convocação de uma assembleia constituinte para redigir uma nova Constituição.

A morte do rapper Eduardo Ruiz Sanz, conhecido artisticamente como Trvko, durante confronto com a polícia, ampliou a crise e provocou uma onda de indignação nacional.

Trvko foi baleado por um policial durante uma manifestação realizada na última quarta-feira (15) na Praça San Martín, região central de Lima. Vídeos mostram manifestantes arremessando coquetéis molotov e fogos de artifício contra as forças de segurança, que reagiram com gás lacrimogêneo e balas de borracha. O governo confirmou que 55 policiais e 20 civis ficaram feridos, além de dez pessoas presas.

Em nota publicada nas redes sociais, Jerí prestou condolências à família do rapper e afirmou que determinou uma investigação “objetiva e transparente” sobre o ocorrido. O presidente também defendeu o endurecimento das ações policiais, alegando que “o verdadeiro inimigo está nas ruas: as gangues criminosas”.

Manifestações do dia 15 de outubro, no Peru, ficaram marcadas por morte de rapper Trvko, símbolo dos atos (Foto: Connie France / AFP)

Manifestações no Peru

As manifestações, que começaram em setembro, têm sido articuladas quase exclusivamente por jovens entre 16 e 30 anos por meio das redes sociais. Eles protestam contra o aumento da insegurança, o desemprego e a corrupção generalizada, além de pedirem o fim do Congresso, a convocação de uma nova Constituinte e a renúncia de Jerí, que assumiu o cargo após o impeachment de Dina Boluarte.

Boluarte foi destituída no último dia 10 de outubro, após o Congresso aprovar, por unanimidade, seu afastamento por “incapacidade moral”. A ex-presidente enfrentava denúncias de corrupção relacionadas ao escândalo “Rolexgate”, que revelou o uso de relógios de luxo não declarados em eventos oficiais. O caso foi decisivo para sua queda, marcando o sétimo governo peruano desde 2016.

Presidente interino

Ao assumir o cargo, Jerí, de 38 anos e filiado ao partido Somos Peru, prometeu um “governo de reconciliação nacional” e declarou “guerra ao crime organizado”. Apesar da instabilidade, ele assegurou que pretende cumprir o mandato provisório e entregar o poder ao vencedor das eleições de abril de 2026, originalmente previstas para o fim do governo Boluarte.

O estado de emergência em Lima é mais um capítulo de um ciclo político conturbado que o Peru vive há quase uma década, com sucessivas crises de legitimidade, escândalos de corrupção e confrontos entre o Executivo e o Congresso. Com a morte de Trvko, o país vê a juventude voltar às ruas — agora unida pelo luto e pela insatisfação com a violência e a falta de perspectivas.

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