Por Cleber Lourenço
Depois de afirmar que o governo federal havia deixado o Rio de Janeiro “sozinho” durante a megaoperação nos complexos do Alemão e da Penha, o governador Cláudio Castro (PL) recuou. Ele ligou para a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, para dizer que não quis atacar o presidente Lula e que o pedido de ajuda era apenas por blindados — e não por tropas federais.
O telefonema, segundo integrantes do governo, foi uma tentativa de esfriar a crise e conter a repercussão negativa de suas declarações.
Nos bastidores, membros da articulação política do Palácio do Planalto descrevem a ligação como um gesto de “descompressão”. “Ele fez aquela fala que pediu ajuda federal. Mentira, ele não pediu, pediu um blindado; sem GLO não dá. Depois ligou pra Gleisi pra dizer que não era bem isso, que não falou mal do governo federal”, relatou uma fonte governista sob reserva.
A avaliação no Planalto é de que o governador tentou reverter o isolamento político causado por sua fala e pela condução da operação, que deixou 64 mortos e 81 presos até o momento — o maior número da história fluminense.
Segundo essa leitura, Castro buscou retomar o controle da pauta de segurança após perceber que o tema pode ser decisivo nas eleições municipais e estaduais. “Eles aceleraram essa operação para tentar retomar o controle da pauta, porque já sabem que segurança pública vai ter repercussão direta na eleição do ano que vem”, afirmou um auxiliar federal à coluna.
Para o governo federal, o Palácio Guanabara apostou na narrativa de enfrentamento como forma de reforçar a imagem de autoridade de Castro em um momento de tensão política. O movimento ocorre no mesmo período em que aliados do bolsonarismo, como Flávio Bolsonaro, voltam a explorar o discurso de combate ao crime e a questionar a atuação de Lula no tema.
Declarações de Cláudio Castro
O Ministério da Justiça divulgou nota rebatendo as declarações de Castro e destacando que a Força Nacional atua no Rio desde outubro de 2023, com permanência garantida até dezembro de 2025. A pasta informou ter atendido todas as 11 solicitações de renovação feitas pelo governo estadual e reforçou que nunca houve recusa de apoio federal.
No Planalto, o episódio será usado para reforçar a posição de que a União tem colaborado com o estado e que o envio de blindados das Forças Armadas depende de um decreto formal de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) — o que o governador nunca pediu oficialmente. A leitura é de que Castro tentou, ao mesmo tempo, preservar sua base política e evitar o desgaste de um confronto direto com o governo federal.
Fontes da Esplanada acreditam que a crise expôs o desconforto entre o Planalto e o Palácio Guanabara e antecipou o tom da disputa eleitoral de 2026, em que segurança pública e enfrentamento ao crime devem dominar o debate nacional.