Casa EconomiaCertidões de óbito corrigidas de Herzog, Rubens Paiva e mais cem são entregues

Certidões de óbito corrigidas de Herzog, Rubens Paiva e mais cem são entregues

por Amanda Prado
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Por Ana Gabriela Oliveira Lima

(Folhapress) – Mais de cem famílias de vítimas da ditadura militar puderam receber nesta quarta-feira (8), na Faculdade de Direito da USP, no centro de São Paulo, certidões de óbito corrigidas atestando violência e morte cometidas pelo Estado brasileiro após o golpe de 1964.

Familiares de pessoas cuja certidão já havia sido corrigida pelo Estado também participaram da solenidade, como os parentes de Rubens Paiva, deputado eleito em 1962, sequestrado e morto por militares, e do jornalista Vladimir Herzog.

Em janeiro, Paiva teve a certidão corrigida para constar morte violenta e causada em contexto de perseguição sistemática. Em 1996, a viúva do político, Eunice Paiva, conseguiu na Justiça o reconhecimento de que ele havia desaparecido desde 1971, ano em que morreu sob tortura.

Já Vladimir Herzog foi assassinado em 1975 nas dependências do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações -Centro de Operações de Defesa Interna) do II Exército, mas os militares divulgaram na época versão oficial de que ele teria cometido suicídio por enforcamento.

A farsa foi desmontada a partir de depoimentos de médicos e testemunhas, e a União foi condenada pela morte do jornalista em 1978. Em 2013, o atestado de óbito de Herzog foi entregue à família constando que a morte, no lugar de causada por enforcamento, derivou de lesões e maus-tratos.

Segundo o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, embora a certidão de Herzog já tivesse mudado em 2013, a nova retificação vai ser menos genérica.

“Naquele momento, a causa da morte passou a constar de forma genérica, com base na Lei nº 9.140/95, que reconhece os mortos e desaparecidos políticos sob responsabilidade do Estado”, informou o ministério por meio da assessoria.

“Agora, a nova retificação traz uma redação mais clara e direta, reconhecendo expressamente que foi uma ‘morte não natural, violenta, causada pelo Estado no contexto da perseguição sistemática à população identificada como dissidente política no regime ditatorial instaurado em 1964′”.

A certidão de Paiva, retificada de maneira açodada em janeiro segundo Eugênia Augusta Fávero, presidente da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos, agora também vai se adequar melhor ao padrão definido a todas as vítimas, respeitando determinação do CNJ (Conselho Nacional de Justiça). A medida é uma das recomendações da CNV (Comissão Nacional da Verdade).

“Esse novo modelo está sendo aplicado a todas as certidões dos mortos e desaparecidos reconhecidos pelo Estado, como uma forma de corrigir definitivamente os registros e reconhecer, de forma mais transparente, a responsabilidade do Estado pelas mortes durante a ditadura”, segundo o ministério dos Direitos Humanos.

Ocorrida no Salão Nobre da Faculdade de Direito da USP, essa é a segunda solenidade do tipo promovida pela CEMDP (Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos).

O local ficou lotado com familiares e convidados, que falaram sobre a necessidade da reparação da verdade. Eles fizeram paralelo entre o golpe de 1964 e a tentativa de golpe liderada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), com pedidos contrários a uma anistia dada aos condenados pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

A ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo, chamou a solenidade de “momento de reescrita da nossa história a partir da memória”. Ela afirmou que é importante lembrar o golpe de 1964 para que não volte a se repetir e falou em autoritarismo na gestão Bolsonaro.

Vera Paiva, filha de Rubens Paiva e conselheira do CEMDP, falou sobre a importância do fortalecimento da demanda por pedidos oficiais de desculpas vinda do Estado e da continuidade de ações para preservar a memória e a verdade sobre o passado. “Para que nunca mais aconteça, precisamos que não se esqueça”, afirmou.

Também compareceu seu irmão, Marcelo Rubens Paiva, e Ivo Herzog, filho de Vladimir Herzog.


Na primeira solenidade, ocorrida em agosto, 63 certidões de óbito retificadas estavam aptas a serem concedidas. Dessas, 21 foram efetivamente entregues a familiares que estiveram presentes para recebê-las.

O objetivo é preservar a memória das vítimas e a verdade acerca do período da ditadura militar (1964-1985) no Brasil. Segundo a CNV (Comissão Nacional da Verdade), 434 pessoas foram vítimas do Estado no período de 1946 a 1988.

Segundo historiadores, porém, o dado não contempla o número real de vítimas, que tende a ser bastante superior, uma vez que a própria Comissão reconhece mais de 8.000 mortes de indígenas atreladas ao período.

Vítimas cujas certidões de óbito estão aptas a serem entregues nesta quarta:

Alex de Paula Xavier Pereira


Alexander José Ibsen Voerões


Alexandre Vannucchi Leme


Ana Maria Nacinovic


Ana Rosa Kucinski Silva


André Grabois


Ângelo Arroyo


Antônio Benetazzo


Antônio dos Três Reis de Oliveira


Antônio Guilherme Ribeiro Ribas


Antônio Raymundo de Lucena


Antônio Sérgio de Mattos


Arno Preis


Aurora Maria Nascimento Furtado


Carlos Marighella


Carlos Nicolau Danielli


Catarina Helena Abi-Eçab


Dênis Casemiro


Devanir José de Carvalho


Dorival Ferreira


Edgar de Aquino Duarte


Eduardo Collen Leite


Emmanuel Bezerra dos Santos


Feliciano Eugenio Neto


Fernando Borges de Paula Ferreira


Flavio Carvalho Molina


Francisco Emanuel Penteado


Francisco José de Oliveira


Francisco Seiko Okama


Frederico Eduardo Mayr


Gastone Lúcia de Carvalho Beltrão


Gelson Reicher


Grenaldo de Jesus Silva


Helenira Resende de Souza Nazareth


Heleny Ferreira Telles Guariba


Hiram de Lima Pereira


Hirohaki Torigoe


Iêda Santos Delgado


Issami Nakamura Okano


Iuri Xavier Pereira


Izis Dias de Oliveira


Jaime Petit da Silva


João Antônio Santos Abi-Eçab


João Carlos Cavalcanti Reis


João Domingos da Silva


Joaquim Alencar de Seixas


Joaquim Câmara Ferreira


José Ferreira de Almeida


José Guimarães


José Idésio Brianezi


José Lavecchia


José Maria Ferreira de Araújo


José Maximino de Andrade Netto


José Milton Barbosa


José Montenegro de Lima


José Roberto Arantes de Almeida


José Roman


José Wilson Lessa Sabbag


Lauriberto José Reyes


Lúcio Petit da Silva


Luisa Augusta Garlippe


Luiz Almeida Araújo


Luiz Eduardo da Rocha Merlino


Luiz Eurico Tejera Lisbôa


Luiz Fogaça Balboni


Luiz Hirata


Luiz José da Cunha


Manoel Fiel Filho


Manoel José Mendes Nunes Abreu


Manoel José Nurchis


Manoel Lisbôa de Moura


Márcio Beck Machado


Marco Antônio Dias Baptista


Marcos Antônio Bráz de Carvalho


Marcos Nonato da Fonseca


Maria Augusta Thomaz


Maria Lúcia Petit da Silva


Miguel Sabat Nuet


Neide Alves dos Santos


Nestor Vera


Norberto Nehring


Olavo Hanssen


Onofre Pinto


Paulo Guerra Tavares


Paulo Stuart Wright


Raimundo Eduardo da Silva


Roberto Cietto


Roberto Macarini


Ronaldo Mouth Queiroz


Rubens Beyrodt Paiva


Rui Osvaldo Aguiar Pfützenreuter


Ruy Carlos Vieira Berbert


Santo Dias da Silva


Solange Lourenço Gomes


Sônia Maria de Moraes Angel Jones


Suely Yumiko Kanayama


Virgílio Gomes da Silva


Vitor Carlos Ramos


Vladimir Herzog


Walter de Souza Ribeiro


Yoshitane Fujimori


Zoé Lucas de Brito Filho

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