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Censo mostra que Brasil tem 295 línguas indígenas, com 433,9 mil falantes

por Felipe Rabioglio
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Por Lucas Lacerda

(Folhapress) – O Brasil tem 295 línguas indígenas faladas em todo o território nacional, aponta o Censo. Na comparação com o levantamento anterior, de 2010, houve um aumento de 21 registros. A língua indígena com mais falantes no país é tikuna, com 51.978 falantes. Em seguida estão a guarani-kaiowá, com 38.658, e a guajajara, que soma 29.212.

Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (24) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Ao todo, a população indígena registrada no país foi de 1.694.836 pessoas. Os dados consideram a declaração durante o recenseamento, em 2022. Já as etnias são 391, sendo a tikuna, a kokama e a makuxi as três mais numerosas.

As unidades da federação que concentram mais línguas diferentes são Amazonas (168), que tem a tikuna como a mais numerosa (46.966 falantes), São Paulo (131), com a língua guarani-mbya com maioria (2.677) e o Pará (127), com munduruku (10.790 falantes) como a mais numerosa.

Os municípios que possuem as maiores concentrações são Manaus (99), São Paulo (78) e Brasília (61). Fora as capitais, São Gabriel da Cachoeira (AM) registrou 68 línguas, Altamira (PA) teve 33 e Iranduba (AM), 31.

Levantamento apontou, comparando com o passado, um aumento de 21 registros de novas línguas indígenas (Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil)

O instituto chegou ao número de 1.990 municípios em que a população com dois ou mais anos de idade fala ao menos uma língua indígena.

Para comparação entre o último e o penúltimo recenseamento, o IBGE considerou o número de falantes com cinco ou mais anos de idade, mesmo critério usado em 2010. Naquele ano, 293,8 mil pessoas falavam algum idioma indígena. Esse contingente passou para 433,9 mil em 2022.

Apesar disso, proporcionalmente caiu o número de indígenas que fala algum dos idiomas, há 15 anos, 37,5% dos indígenas era falante de uma dessas línguas, taxa que foi de 28,5% em 2022.

Já dentro das terras indígenas, resultado também, de acordo com os técnicos, do fortalecimento da autoafirmação e das melhoras em coleta de dados, os falantes de línguas indígenas passaram de 57,4% para 63,22% das populações que residem nesses territórios.

O país também viu surgir como língua indígena mais falada em alguns estados o warao, da Venezuela, por causa da migração recente para o Brasil. O IBGE identificou 5.055 falantes ao todo, sendo que 4.398 residiam em área urbana. Roraima concentrava a maior parte dessas pessoas, com 1.817 registradas. Além disso, o warao virou a língua indígena mais falada no Piauí (195 falantes), no Rio Grande do Norte (73 falantes) e no Distrito Federal (156 falantes).

De acordo com o IBGE, das 308 mil pessoas indígenas com 15 ou mais anos de idade que falam língua indígena, 78,5% são alfabetizadas. A taxa é inferior ao grupo de indígenas como um todo.

Entre as pessoas indígenas com cinco ou mais anos de idade, o percentual de quem não fala português caiu de 17,5% em 2010 para 11,9% em 2022. Já para quem vive dentro de terras indígenas, os não falantes de português aumentaram de 28,9% para 31%.

As 10 línguas indígenas com mais falantes no Brasil

  1. 51.978 – Tikúna
  2. 38.658 – Guarani-Kaiowá
  3. 29.212 – Guajajara
  4. 27.482 – Kaingang
  5. 21.772 – Xavante
  6. 19.174 – Yanomami
  7. 15.421 – Sateré-Mawé
  8. 13.070 – Nnheengatu
  9. 12.961 – Munduruku
  10. 12.435 – Tukano

Fonte: Censo Demográfico 2022/IBGE

Para o estudante de linguística da Unicamp e ativista Naldo Tukano, 35, a coleta desses dados é ponto de partida para a criação de políticas públicas. “É importante termos esses dados para o desenvolvimento da educação escolar indígena e para que as línguas sobrevivam e ultrapassem gerações, porque atualmente têm um sério risco de morrerem.”

Natural de São Gabriel da Cachoeira, Naldo se preocupa em passar os conhecimentos da língua tukano para o filho e os enteados, e vê o papel como indígena e pesquisador ter um peso duplo. “Eu tento preservar o máximo possível da minha raiz, porque a morte da língua vem através de ideias, de conceitos e modos de vida, e muitos indígenas abandonaram a língua.”

Atualmente, ele trabalha para inserir a língua tukano, que teve 14.044 falantes registrados no recenseamento de 2022. O objetivo é criar dicionários, materiais didáticos e programas de formação para manter a língua viva por meio da formação de novos falantes.

“Quando se tem dado, se gera estatística. Com isso, é possível que indígenas reivindiquem políticas voltadas para essas línguas e para as populações falantes.”

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