Acusado de operar um esquema de descontos indevidos em aposentadorias, Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como Careca do INSS, vem sendo investigado por movimentações financeiras incompatíveis com seu histórico patrimonial. Entre as transações mais chamativas, está a compra de um prédio comercial por R$ 4 milhões pagos à vista em 2024, apenas quatro anos depois de financiar um lote de R$ 108,9 mil em Brasília.
As apurações da Polícia Federal e da CPI do INSS indicam que a ascensão financeira de Antunes coincidiu com transferências milionárias recebidas por empresas de sua propriedade da Ambec (Associação de Aposentados Mutualista para Benefícios Coletivos), entidade suspeita de realizar descontos irregulares em benefícios. Outras movimentações financeiras sugerem ligação direta entre o investigado e outros suspeitos do esquema.
Documentos públicos, como escrituras e certidões de imóveis, mostram que o careca do INSS quitou o financiamento do lote em 2023, muito antes do prazo de dez anos previsto, e passou a comprar imóveis de alto valor à vista. O lote inicial, localizado em Vicente Pires (DF), já era habitado pelo casal Antunes e Tânia Carvalho dos Santos antes da compra oficial, feita por meio de ação de regularização fundiária da Terracap.
O valor do lote foi reduzido em 25%, chegando a R$ 81,6 mil após descontos por obras de infraestrutura realizadas pelo casal. Com acréscimo de custas acessórias e impostos, o total financiado pelo Banco de Brasília (BRB) foi de R$ 86,7 mil, com parcelas mensais de R$ 1.454,60 e juros de 9,92% ao ano. A quitação antecipada liberou o imóvel sem restrições em janeiro de 2024, antes de ser declarado indisponível em processos judiciais ligados ao escândalo do INSS.
Nos anos seguintes, Antunes passou a realizar aquisições de imóveis de alto valor, muitas vezes com pagamentos à vista ou via Pix. Entre eles, destacam-se uma casa no Lago Sul por R$ 3,3 milhões e o prédio comercial de R$ 4 milhões, pagos em 2024. A Polícia Federal também identificou três transações imobiliárias em São Paulo no mesmo ano, somando R$ 7 milhões, que, segundo os investigadores, apresentam “fortes indícios de lavagem de dinheiro”.
Carro de luxo do Careca do INSS apreendido pela PF na operação “Sem Desconto” (Foto: Reprodução)
Defesa do Careca do INSS
Questionado sobre a origem dos recursos para essas compras milionárias, a defesa de Antunes optou por não se manifestar. Em depoimento à CPI do INSS, o investigado negou irregularidades e afirmou que sua trajetória financeira é resultado de “trabalho honesto e dedicado”. Ele disse ainda que se houveram descontos indevidos, a responsabilidade é das entidades envolvidas, e não dele.
“Toda a minha prosperidade é fruto de trabalho honesto e dedicado. Nunca possuí patrimônio oriundo de roubo ou de qualquer prática ilícita”, declarou Antunes durante a oitiva.
O acusado está preso desde 12 de setembro, com a detenção mantida pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF). A decisão considerou que ele tentou obstruir as investigações sobre os descontos ilegais em aposentadorias, algo que ele nega.
“Jamais tentei frustrar qualquer investigação”, afirmou Antunes à CPI, reafirmando sua defesa de inocência.
