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Brasil avalia aceitar cotas em vez de isenção total no tarifaço de Trump

por Adriana Cardoso
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Uma semana após o encontro entre os presidentes Lula (PT) e Donald Trump, em Kuala Lumpur, na Malásia, o impasse comercial entre Brasil e Estados Unidos continua sem sinal de avanço. Segundo reportagem do jornal O Globo, negociadores brasileiros admitem, reservadamente, que, caso não seja possível uma isenção total das tarifas impostas por Washington, o governo pode aceitar concessões setoriais — como cotas de exportação para determinados produtos.

Entre os setores que poderiam ser beneficiados estão commodities cujos preços subiram no mercado norte-americano após a aplicação da tarifa de 50%. Já a indústria nacional resiste à ideia de negociações por segmento, receosa de perder espaço para os setores agrícolas mais organizados. A divisão interna tem aumentado a tensão entre os grupos produtivos.

Nesta quarta-feira (4), a Suprema Corte dos EUA deve realizar uma audiência decisiva sobre o tarifaço, mas Trump já avisou que não comparecerá.

Tarifaço de Trump: negociação com Washington e a pressão dos setores

O secretário-executivo do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio), Márcio Elias Rosa, que participou da reunião de Lula com Trump na Malásia, confirmou que o objetivo principal do Brasil segue sendo a suspensão total das tarifas, embora reconheça a possibilidade de acordos específicos.

“Reclamamos sobre a tarifa a produtos como o café porque tem grande impacto inflacionário lá. Reduzir essa tarifa beneficiaria os próprios americanos”, disse Rosa ao Globo. “Se essa redução vai se dar por meio de cotas ou não, a negociação vai determinar. Pode ser um caminho, desde que a cota tenha dimensão suficiente para o que já exportávamos.”

Os produtos que ainda não obtiveram isenções — como carne bovina, café, máquinas e equipamentos — estão entre os principais itens da pauta exportadora brasileira para os Estados Unidos.

O governo aguarda o retorno da comitiva americana que foi à Ásia negociar com a China para retomar as tratativas. Uma viagem oficial do chanceler Mauro Vieira e do vice-presidente Geraldo Alckmin a Washington deve ocorrer nos próximos dias.

Etanol volta ao centro da disputa

Outro ponto sensível nas tratativas é o etanol. Empresários defendem que o Brasil aceite discutir uma redução das tarifas de importação do etanol americano, mas a ideia enfrenta resistência do setor sucroalcooleiro e do próprio MDIC.

Até 2020, o Brasil mantinha uma cota anual de 600 milhões de litros de etanol americano com isenção tarifária. Acima desse volume, a tarifa era aplicada. Hoje, o país taxa em 18% o etanol de milho dos EUA, enquanto os americanos cobram 2,5% sobre o etanol de cana brasileiro.

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