Com o bafo do impeachment no cangote, em 1992, o então presidente Fernando Collor de Mello soltou um grito desesperado às margens do Lago Paranoá: “Não me deixem só”. Acabaria abandonado até pelos mais fiéis conterrâneos da República das Alagoas.
Conforme se aproximava o seu julgamento por tentativa de golpe de Estado, o ex-presidente Jair Bolsonaro esperneou com o berro de “Anistia” — e até ouviu o eco dos seus devotos no Congresso propagando a mesma ladainha.
À véspera da prisão, o ex-presidente condenado agora sente o silêncio e o tratamento frio dos principais representantes do bolsonarismo, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicano), criatura que esqueceu a campanha para anistiar o seu próprio criador.
Os filhos de Bolsonaro se queixam da traição de figuras ilustres da extrema direita, como os deputados federais Níkolas Ferreira (PL-MG) e Ana Campagnolo (PL-SC).
Eduardo, parlamentar de São Paulo que mora nos EUA, definiu Tarcísio como “o candidato do Sistema” e repostou um texto nas redes sociais — do perfil MafinhaBarba — para explicar a ingratidão vivida pela família do momento:
“A briga na direita que todos estão vendo é simples. Nikolas quer se livrar do Bolsonaro de vez. Ele está liderando uma dissidência, e vários políticos mais jovens estão com ele. O problema? O de sempre: ‘temos que nos descolar do Bozo sem perder o eleitor’. Eles querem continuar sendo eleitos pelos bolsonaristas, mas não querem mais prestar contas ao Bolsonaro. Provavelmente, a Ana e ele combinaram isso em relação à vaga do Carlos. E tem dado certo, viu”.
No capítulo do apoio político-espiritual, as coisas também mudaram no reino do bolsonarismo. Nota-se o afastamento lento e gradual do pastor Silas Malafaia, da igreja Vitória em Cristo, e a aproximação do bispo Robson Rodovalho, o fundador da Sara Nossa Terra, que esteve na casa do ex-presidente quinta-feira (6/11).
Para quem imaginava ser resgatado pelo apoio da massa enfurecida nas ruas, Bolsonaro chega à véspera da prisão experimentando do mesmo desprezo que impôs a diversos ex-aliados da sua jornada política.
Em um post irônico recente, o ex-deputado federal Julian Lemos (União-PB), coordenador da campanha bolsonarista no Nordeste, mostrou como o ex-presidente é “amado” por quem largou à beira da estrada:
“Vamos falar a verdade, só o fato de Bolsonaro está calado, Xandão merecia uma transplante capilar”.
Sem povo na rua, como desejava, e sem apoio dos próprios soldados na trincheira, só resta ao ex-presidente tentar o mesmo caminho de Fernando Collor: exibir atestados médicos para se livrar da Papuda e cumprir a pena em domicílio. Veremos.