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Bolsonaro e o peso histórico do voto de uma mulher

por Vivian Mesquita
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Há símbolos que pesam tanto quanto sentenças. O Brasil assistiu a um desses momentos quando Cármen Lúcia, a ministra com mais tempo na Primeira Turma do Supremo, sacramentou a condenação de Bolsonaro e de generais de alta patente por golpe de Estado, entre outros crimes. Foi o voto dela que fechou a conta, que selou o destino de homens que, acostumados ao poder e à farda, agora terão de lidar com a lei – e com a memória.

O julgamento não foi apenas uma cena jurídica. Foi um gesto político, histórico, quase literário. Cármen Lúcia falou do passado, caminhou pelo presente e apontou para o futuro, lembrando que as instituições brasileiras, com todas as suas dores e percalços, não deixaram de cumprir suas funções. Resistiram, como resistem as mulheres que se levantam depois de séculos de silenciamento.

E foi justamente aí que o julgamento virou símbolo. Quando o ministro Flávio Dino pediu um aparte no início da leitura, ela respondeu com a cumplicidade que aquele momento exigia, mas também com firmeza: “Concedo todos, mas que seja rápido, porque nós, mulheres, já ficamos dois mil anos caladas. Agora queremos falar.”

Para Jair Bolsonaro, a condenação de uma mulher tem gosto especial de ironia histórica. Ele, que construiu sua trajetória publica ofendendo, diminuindo e agredindo mulheres – das adversárias políticas à própria filha, a quem reduziu ao “fruto de uma fraquejada” – recebeu de uma mulher a certeza da punição, da cadeia que é seu próximo destino.

O homem que se dizia imbatível, que tratava Alexandre de Moraes como inimigo do povo a ser desmoralizado, não teve coragem de enfrentá-lo. A valentia dos covardes sempre se revela na hora errada.

No fim, a história guarda suas ironias. Um ex-presidente que debochava das instituições foi condenado justamente por elas. E uma mulher, em nome de tantas que foram caladas, teve a palavra final.

O silêncio de dois mil anos começou a terminar naquele voto.

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