Casa EconomiaBolsa brasileira avança 21,6% no ano; ‘shutdown’ pode pressionar dólar

Bolsa brasileira avança 21,6% no ano; ‘shutdown’ pode pressionar dólar

por Adriana Cardoso
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Após um setembro marcado por sucessivos recordes nominais, a Bolsa brasileira (B3) encerrou os primeiros nove meses de 2025 com uma valorização de 21,58% em reais, o melhor desempenho desde 2017. O avanço surpreende em um cenário ainda marcado por juros elevados — com a Selic em 15%, maior patamar desde 2006 — que, em tese, favoreceria a renda fixa frente à variável.

Na prática, porém, o Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, superou todas as aplicações do período, inclusive os investimentos atrelados aos títulos públicos.

Esse desempenho reflete uma combinação de fatores externos e internos. De um lado, a queda dos juros nos Estados Unidos e a desvalorização do dólar ampliaram o apetite global por ativos de risco, especialmente em países emergentes. De outro, os chamados múltiplos baixos — que indicam ações baratas em relação aos lucros — tornaram a Bolsa brasileira mais atrativa aos olhos dos investidores.

Bolsa brasileira em alta e dólar mais fraco

Para o investidor estrangeiro, a performance da Bolsa brasileira em 2025 é ainda mais impressionante: alta de 41,1% em dólares, favorecida pela perda de valor da moeda americana frente às principais divisas globais.

O dólar acumula queda de 14% no ano e fechou o mês de setembro cotado a R$ 5,32, praticamente estável. Essa é a maior valorização do índice brasileiro em dólar desde 2016, colocando o Brasil no topo do ranking de emergentes com melhor desempenho — à frente de México (+27%), África do Sul (+34%) e Indonésia (+14%).

Analistas apontam que o cenário externo tem sido decisivo. Com o mercado de trabalho nos Estados Unidos mostrando sinais de arrefecimento, aumentaram as apostas de novos cortes na taxa de juros americana. A mediana das projeções do Federal Reserve prevê pelo menos duas reduções até dezembro, o que levaria os juros à faixa entre 3,5% e 3,75%.

Esse movimento amplia o diferencial de juros entre os EUA e países como o Brasil, atraindo fluxo estrangeiro para ativos locais — especialmente em um contexto de múltiplos ainda depreciados. Até 26 de setembro, a entrada líquida de capital estrangeiro na B3 somava R$ 26 bilhões, maior nível desde 2022. Em contrapartida, o investidor institucional local — como os fundos de pensão — manteve postura conservadora, com saída acumulada de R$ 40,5 bilhões, priorizando renda fixa diante dos altos juros.

Shutdown nos EUA eleva incerteza

A paralisação do governo americano (shutdown), iniciada nesta quarta-feira (1º), adicionou incerteza aos mercados ao suspender temporariamente a divulgação de dados econômicos cruciais, como os pedidos de auxílio-desemprego e o payroll de setembro, marcado para ser divulgado nesta sexta-feira (3).

Analistas destacam que o momento é delicado, já que o Fed depende desses indicadores para calibrar sua política monetária.

Agentes já precificam 90% de chance um corte de 0,25 ponto percentual na taxa de juros dos EUA em outubro e quase 70% de possibilidade de mais um até o fim do ano.

Enquanto a decisão não vem, os investidores buscam alternativas mais rentáveis para fugir da instabilidade do mercado financeiro estadunidense.

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