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O preço do café deve subir até 15% nos supermercados até outubro, segundo dados divulgados pela Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café) na quarta-feira (24). Parte do reajuste já foi repassada e o restante está em negociação. Após isso, o setor projeta estabilidade nos preços. A expectativa é de uma boa colheita em 2026, o que deve ajudar a recompor os estoques.
Os preços internacionais do café chegaram a subir 40% entre agosto e setembro. De acordo com a Abic, as indústrias negociaram reajustes de 10% a 15% nos preços do café com o varejo.
O aumento no valor fez com que, entre janeiro e agosto deste ano, as vendas de café acumulassem queda de 5% em relação ao mesmo período do ano passado.
Porém, a perspectiva é de melhora no cenário. “Trabalhamos com a perspectiva de safra recorde em 2026”, disse Pavel Cardoso, presidente da Abic, à Folha de S.Paulo. Segundo ele, o fenômeno La Niña pode trazer clima favorável, com chuvas regulares e menos volatilidade nos preços. Nesse cenário, o reajuste de 10% a 15% já aplicado seria suficiente para recompor custos e garantir estabilidade.
Esalq-USP aponta queda nos preços
Por sua vez, levantamento do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq-USP (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo), aponta que os preços da saca de café caíram até 11% na segunda quinzena de setembro de 2025, refletindo fatores tanto climáticos quanto geopolíticos.
Entre os dias 15 e 22 de setembro, o indicador Cepea/Esalq para o café arábica, no posto de São Paulo, recuou 10,2%, fechando a R$ 2.133,08. Já o robusta, negociado no Espírito Santo, teve queda ainda mais acentuada: 11,1%, com a saca cotada a R$ 1.313,22 no mesmo período.
De acordo com os pesquisadores do Cepea, a retração nos preços está associada a três elementos principais:
- Previsão de chuvas nas áreas produtoras, o que eleva a expectativa de uma safra mais saudável;
- Liquidação de posições na Bolsa de Nova York, após a forte alta registrada nos últimos meses;
- Sinais de possível recuo na tarifa de 50% imposta pelos EUA ao café brasileiro, em vigor desde agosto.
Apesar do recuo, o Cepea alerta que os preços ainda se mantêm em níveis elevados, sustentados pela oferta restrita e estoques internos reduzidos. “A colheita da última safra evidenciou perdas no beneficiamento e um volume final mais limitado”, destaca o centro de estudos.
Tarifaço de Trump gera incerteza
A decisão do governo dos Estados Unidos, em agosto, de impor um tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros, incluindo o café, provocou grande volatilidade no setor. A medida — parte de um pacote assinado pelo presidente Donald Trump — pegou o mercado de surpresa e afetou diretamente as exportações do grão, que têm os EUA como principal destino.
Em 2024, o Brasil foi responsável por cerca de 23% do café importado pelos EUA, de acordo com dados da USITC (Comissão de Comércio Internacional dos Estados Unidos). A Colômbia, concorrente direta no arábica, responde por 17% e segue isenta da nova tarifação. Já o Vietnã, forte no robusta, negocia alíquota reduzida de 20%.
Segundo o Cepea, a medida norte-americana tem impacto estrutural, tanto para a cafeicultura brasileira quanto para o abastecimento do mercado norte-americano, uma vez que os EUA não produzem café e o tarifaço, portanto, afeta o setor cafeeiro por lá.
Redirecionamento de mercado
A entrada em vigor das tarifas forçou o Brasil a buscar novos mercados compradores, exigindo maior agilidade logística e estratégia comercial. A comercialização da safra 2025/26, inclusive, segue em ritmo lento: com o cenário externo indefinido e os preços pressionados, produtores estão evitando grandes negociações e vendendo apenas volumes mínimos, suficientes para manter o fluxo de caixa.
“O cenário tarifário é hoje o principal fator de instabilidade no setor”, aponta o Cepea. Enquanto isso, o mercado doméstico segue sensível às oscilações nas bolsas internacionais de Nova York e Londres, impulsionadas por movimentos especulativos de fundos.