Por Cleber Lourenço
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu na noite de segunda-feira (20) com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), para tratar da indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, ao Supremo Tribunal Federal (STF), na vaga deixada por Luís Roberto Barroso.
Segundo membros da articulação política do Palácio do Planalto, Alcolumbre defendeu que o governo não torne pública a decisão antes de dialogar com os senadores e, principalmente, com o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
A orientação foi recebida pelo entorno de Lula como um gesto político de prudência, destinado a preservar o clima de cooperação entre Executivo e Legislativo.
De acordo com integrantes da articulação política, o presidente da CCJ sugeriu que o governo aproveite o período de viagem de Lula à Ásia para preparar o terreno no Senado, evitando resistências ou desconfortos políticos com o anúncio.
A expectativa é que, com o retorno do presidente ao Brasil na próxima semana, ele converse pessoalmente com Pacheco e seus ministros e só então anuncie oficialmente a indicação de Messias.
A reunião no Palácio da Alvorada foi articulada pelo líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), que atua como principal interlocutor entre Planalto e Senado. De acordo com fontes próximas à negociação, Alcolumbre considerou “mais adequado” alinhar previamente a indicação com os líderes da Casa, sobretudo com Pacheco, aliado nas últimas indicações à Suprema Corte.
Decisão de Lula
Em entrevista à CNN, Wagner disse acreditar que Lula já está decidido em relação ao nome de Messias. “Acho que ele está com convicção firmada”, declarou.
O senador confirmou que foi o responsável por articular o encontro entre Lula e Alcolumbre e disse ter se reunido com o presidente na manhã desta terça-feira (21) para saber o teor da conversa.
“Ele foi defender o nome do Pacheco. Se o presidente disse para ele [Alcolumbre]: ‘Mas eu já escolhi ou não escolhi’, eu não sei. Não gosto muito de me precipitar para não dar barrigada, porque só vai estar valendo quando tiver. Eu acho que ele está com convicção firmada (sobre Messias)”, afirmou.
Senador Rodrigo Pacheco – Foto: Divulgação
Segundo Wagner, a tendência é que Lula oficialize a indicação à Corte quando retornar ao Brasil e após conversar pessoalmente com Rodrigo Pacheco.
“Se ele não fez agora, ele vai ter que fazer na volta. Ele estava pensando, eventualmente, em fazer [a indicação], mas ele ainda quer ter uma nova conversa com o Rodrigo. E óbvio que, no momento em que fizer o anúncio, ele acha que seria mais próprio estar aqui e não fazer o anúncio e tchau”, disse o senador.
Nos bastidores, o Planalto avalia que a ausência do presidente durante a repercussão de uma decisão dessa magnitude poderia enfraquecer o simbolismo político da nomeação.
Por isso, a escolha de Messias deve ser anunciada apenas quando Lula estiver no país, com direito a coletiva e gesto político planejado. O advogado-geral da União é visto por aliados como um nome técnico e de perfil institucional, capaz de agregar diferentes correntes do Senado, inclusive entre oposicionistas moderados.
Wagner também disse à CNN que Lula considera Rodrigo Pacheco o melhor nome para disputar o governo de Minas Gerais em 2026.
“O Alcolumbre, é pública a torcida dele pelo Rodrigo, acho absolutamente normal. O presidente continua convencido que o melhor nome para disputar é o governo de Minas é Rodrigo. Óbvio que ninguém é candidato imposto, precisa saber se ele topa”, declarou.
Nos bastidores, a fala foi interpretada como sinal de que o governo quer preservar a relação política com o presidente do Senado, mesmo após a vitória de Messias no processo de escolha.
Expectativa de aprovação
Durante a ausência de Lula, o governo deve intensificar a articulação política com senadores da base e de partidos independentes. A ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, e o líder do governo, Randolfe Rodrigues (PT-AP), devem conduzir essas conversas, reforçando o perfil técnico de Messias e garantindo uma sabatina sem sobressaltos na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), presidida por Alcolumbre.
Com o ambiente preparado e sem grandes resistências, a expectativa é que a indicação avance rapidamente e seja aprovada pelo Senado sem obstáculos.