Hoje, estava vendo a manifestação gigantesca em Amsterdam, maior cidade da Holanda, contra o massacre dos palestinos. E não foi só lá, aconteceu também na maioria das metrópoles europeias. Até São Paulo saiu as ruas no final de semana. Apesar de comovido por esta mostra de solidariedade humana, temos que reconhecer que foi uma manifestação tardia. O massacre revoltante e covarde dos palestinos já está em todas as televisões há muito tempo e só agora vemos empatia com seu sofrimento. Demorou muito!
A demora tem a ver com o racismo global que perpassa todo mundo e divide o planeta entre conquistadores brancos no Norte e os oprimidos mais escuros do Sul global. Todas as grandes teorias sociais que estudei na minha vida corroboram – ou pelo menos não reformulam ou criticam – a visão do Sul global como antro da corrupção e dos povos tristes, pobres, primitivos e incultos. E contraposto ao Norte global percebido como bastião da honestidade e moralidade, o que, por sua vez, é uma lorota que só os vira-latas acreditam. Substituiu-se, simplesmente, o preconceito racial pelo cultural mantendo tudo como era e fingindo que não se é mais racista.
Massacrar os povos “inferiores”, percebidos como sub-humanos, é um esporte europeu desde 1500. E sabemos que só temos empatia em quem reconhecemos a humanidade, o que nos permite nos colocar no lugar do oprimido. Demorou, mas os europeus terminaram por perceber que no peito dos palestinos também bate um coração. A humanidade de cada um de nós não é um dado natural. A humanidade, como já dizia Walter Benjamim, é algo que temos que nutrir todos os dias para não nos perdermos.
A boa notícia é que não estamos completamente dormentes no nosso coração como quer a extrema direita mundial. Gaza é, neste sentido, também um experimento para testar os limites da tolerância mundial com os massacres e violações de direitos humanos. A declaração de Trump sobre construir um resort em Gaza demonstra total desprezo pela vida dos palestinos. E a tática de testar limites enquanto isso funciona a todo vapor. Sem reação, a tendência é criar zonas onde a lei e os limites morais não vinguem mais. Por isso é tão importante a indignação mundial. Demorou, mas os europeus mostraram a sua humanidade e sua compaixão. E isso será fundamental para garantir um mínimo de pressão a favor da causa palestina.