Qual um reality show de quinta categoria cuja temporada jamais acaba, os Bolsonaro seguem como a grande pedra no sapato da nação, produzindo um enredo que oscila entre o patético e o francamente bizarro. E o mais sintomático, como um ato falho que se repete à exaustão, é que o palco de suas mais recentes peripécias é, invariavelmente, os Estados Unidos da América – ou, mais precisamente, uma caricatura de sua indústria cultural.
Buemba! Buemba! (abençoa, Zé Simão!). Comecemos pelo baile da realeza. A festa de 15 anos da filha caçula, a 05! E o tema? Prenda a respiração: “As Branquelas”! Rarará! Isso mesmo, o clássico e famigerado filme dos irmãos Wayans. No bolo, a jovem Laura surge como uma das loiras platinadas, numa apropriação cultural às avessas que nem o mais criativo roteirista da Praça é Nossa ousaria conceber. O pai, em sua prisão domiciliar dourada, deve ter olhado e pensado: “Tá ok!” E dado aquela gargalhada sinistra de genocida!
Mas o melhor ainda estava por vir. Entre os convidados, quem? Ela mesma! A fada da goiabeira, a senadora Damares Alves! Já imaginou a cena? A recatada Damares deparando-se com a imagem do Latrell (Terry Crews), aquele personagem que estica sua imeeeensa língua e canta “A Thousand Miles”? (tan tan tan tan tan tan tan tan tan). Teria ela saído correndo, gritando “DEMÔNIO! O CAPIROTO LINGUARUDO ESTÁ NO BOLO!”? Ou, num momento de epifania, teria sussurrado um “CREEEDO, QUE DELÍCIA!”? Fica a dúvida no ar, tão óbvia quanto a familícia criminosa.
Enquanto isso, em outra ponta do império americano, o filho 01, o popular “Chocolatinho”, protagonizava sua própria peregrinação. Flávio foi a Richmond, na Virgínia, prestar homenagens na tumba de seu “professor”, o guru Olavo de Carvalho. E, claro, fez um vídeo! Com aquela expressão solene de quem segura um espirro durante a execução do Hino Nacional. Deixou sobre a lápide um terço. Um terço azul. AZUL! Tosco, mas simbólico. Seria uma mensagem cifrada para a Damares? Uma tentativa de espantar o comunismo do além-túmulo? Ou aquele bom e velho fingimento de um católico fake? Mas 01 não era crente?! Jesus! Apaga a luz! “Nosso eterno professor”, disse o senador. Eterno mesmo, pois as sandices que ele ensinou parecem uma praga bíblica!
E para fechar a trinca do bizarro, o 03, o nosso Bananinha internacional! Eduardo zanzava por Washington, posando em frente à Casa Branca, tentando articular sabe-se lá o quê contra o Brasil. É o nosso espião que caiu da bananeira! Fala grosso num “ingrêis” de cursinho, mas a CIA e o governo americano o ignoram com a mesma eficiência com que nós ignoramos o horário político. Devem ter uma pasta para ele com a etiqueta: “Warning: may slip on peel” (Cuidado: pode escorregar na casca). É a versão brasileira de “Pinky e o Cérebro”, tentando dominar o mundo – ou ao menos o condomínio Vivendas da Barra – e falhando miseravelmente.
No fim das contas, é a grande ópera-bufa de uma família que se tornou um sintoma. A festa de debutante, a visita ao túmulo do guru e as conspirações surreais em Washington são atos de uma mesma peça: a de uma gente que se recusa a aceitar a própria irrelevância. Eles não querem ser brasileiros, querem ser uma paródia malfeita de um sonho americano que só existe em suas cabeças. É a síndrome de vira-lata com pedigree de plástico e com a língua do Latrell!
O Brasil merece mais do que ser o coadjuvante neste espetáculo de mau gosto. Mas, enquanto a cortina não se fecha, o jeito é rir para não chorar e, claro, reassistir as “Branquelas” e chorar de tanto rir, imaginando Damares e Latrell rolando na relva do amor! Ai, ai, ai! Tan tan tan tan tan tan tan tan tan!