Casa Economia‘A Argentina está se destruindo para sustentar uma mentira cambial’, diz Eduardo Moreira

‘A Argentina está se destruindo para sustentar uma mentira cambial’, diz Eduardo Moreira

por Adriana Cardoso
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A estratégia econômica adotada pelo presidente argentino Javier Milei, baseada na valorização artificial do peso frente ao dólar, está empurrando a Argentina para um colapso financeiro. Prestes a lançar o documentário “Vá pra Argentina, carajo!” (garanta seu ingresso para a pré-estreia clicando aqui), o economista e fundador do ICL (Instituto Conhecimento Liberta), Eduardo Moreira, vê na condução cambial do governo argentino um ciclo vicioso de endividamento, perda de reservas e desindustrialização.

“A Argentina está se destruindo para sustentar uma mentira cambial”, disse Moreira durante participação no ICL Notícias 1ª edição desta segunda-feira (6).

A crítica de Moreira se apoia na tentativa do governo Milei de manter o peso argentino como uma moeda forte, com alto poder de compra em relação ao dólar. Segundo o economista, a ideia inicial era conter a inflação interna ao permitir que produtos importados chegassem mais baratos ao país, beneficiando consumidores no curto prazo.

Argentina: peso valorizado, indústria fragilizada e reservas em queda

Na prática, segundo Moreira, a política de Milei criou um efeito colateral devastador: um incentivo massivo à importação, que prejudica diretamente a indústria nacional. “Quando o peso fica forte, comprar coisas de fora fica barato. O argentino começa a importar tudo, e a indústria local não consegue competir. Vai para o saco”, afirma.

Com o peso valorizado de forma artificial, empresários argentinos passaram a ter dificuldades para manter a produção interna, já que precisam pagar salários e custos em uma moeda “cara”. Ao mesmo tempo, o aumento da demanda por produtos estrangeiros pressiona as reservas internacionais, já que para importar é necessário comprar dólares.

Esse desequilíbrio leva o governo a duas saídas perigosas: ou queima reservas para sustentar o câmbio, ou recorre a mais endividamento. “São as duas coisas que sempre quebraram a Argentina: queimar reserva ou emitir dívida”, lembrou Moreira.

Especulação, dólar paralelo e ciclo vicioso

A busca por dólares se agravou com a proliferação de empresas fictícias criadas por especuladores para explorar a diferença entre o câmbio oficial e o chamado “dólar bolsa” (ou “dólar MEP” — Mercado Eletrônico de Pagamentos). Essas empresas compram dólares a preços oficiais e vendem em mercados paralelos, lucrando com a arbitragem e drenando ainda mais as reservas do país.

“O governo está vendendo dólar barato para especulador. Eles compram no oficial, vendem no paralelo e lucram com a diferença. É uma bolha que vai estourar”, alerta o economista.

À medida que o dólar paralelo se distancia do oficial, a pressão sobre o governo aumenta para desvalorizar o peso — algo que Milei tenta evitar a qualquer custo. “É um ciclo que não acaba. Cada vez ele tem que se endividar mais e queimar mais reserva para manter essa farsa”, completa.

Investimento em colapso

Além da crise cambial, Eduardo Moreira destacou o desmonte do investimento público como outro fator preocupante. No ano passado, a Argentina cortou quase 40% dos recursos destinados à ciência e tecnologia. Sem fomento à inovação e à produção nacional, o país se vê ainda mais dependente da exportação de commodities — uma solução insuficiente diante da sobrevalorização do peso.

“A saída seria vender muito recurso mineral e agrícola para fechar a conta, mas essa política cambial impede até isso. É o que chamamos de déficit em transações correntes — e isso pressiona o peso ou obriga a vender mais reserva”, pontuou Moreira.

Veja a análise completa de Eduardo Moreira no vídeo abaixo:

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