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A popularização das bets transformou o Brasil em um dos maiores mercados de apostas online no mundo. De acordo com levantamento realizado pela CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas) e pelo SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito), 39,5 milhões de brasileiros apostaram na internet nos últimos 12 meses — o equivalente a um terço dos consumidores digitais.
Mais da metade dos entrevistados (54%) declarou ter feito apostas esportivas, enquanto cassinos virtuais e outros jogos de azar também conquistam espaço. Um em cada quatro brasileiros joga semanalmente, e 11% apostam todos os dias, segundo o estudo.
A pesquisa também aponta que 19% dos apostadores — cerca de 7,5 milhões de pessoas — comprometeram parte da renda com bets, e 41% renunciaram a algum tipo de consumo para continuar jogando.
O endividamento é uma realidade para muitos: 17% deixaram de pagar contas para apostar e 29% já tiveram o nome negativado por dívidas ligadas aos jogos.
Gasto médio mensal com bets chega a R$ 187
O gasto médio mensal com apostas chega a R$ 187, mas varia conforme a classe social. Nas classes C, D e E, o valor médio é de R$ 151,98, enquanto nas classes A e B chega a R$ 255,22.
Além do impacto financeiro, o estudo revela que 28% dos apostadores relatam efeitos negativos na vida pessoal: irritação, conflitos familiares e sintomas de ansiedade e depressão aparecem entre os principais problemas. A produtividade no trabalho ou nos estudos caiu para 7% dos entrevistados.
O presidente da CNDL, José César da Costa, alerta que o avanço das bets representa “um problema social e econômico em expansão”. Para ele, é essencial que a regulamentação do setor priorize a proteção do consumidor, especialmente de jovens e famílias, e não apenas o aumento da arrecadação.
Costa defende políticas públicas que tratam o vício em jogos como uma doença e que imponham limites à publicidade e aos meios de pagamento.
Regulamentação e percepção pública das bets
A pesquisa mostra que a maioria dos brasileiros vê com desconfiança a publicidade das plataformas de apostas. Seis em cada dez entrevistados consideram negativo o uso de celebridades e influenciadores digitais em campanhas do setor, e 41% afirmam ter deixado de seguir criadores de conteúdo que divulgam casas de aposta.
Entre as medidas mais defendidas pelos consumidores estão campanhas de conscientização sobre o vício (44%), restrição da publicidade para jovens (35%) e maior fiscalização e tributação do setor (27%).
Apesar da popularidade das bets, 37% defendem sua proibição total, enquanto 56% preferem que a prática continue permitida, mas sob regras mais rígidas.
O presidente do SPC Brasil, Roque Pellizzaro Júnior, reforça o alerta: “Para muitos, as apostas deixaram de ser um hobby e viraram uma armadilha”. Ele destaca que o uso de cartão de crédito e o fácil acesso a empréstimos para apostar ampliam o risco de endividamento. “É crucial que sociedade e governo atuem juntos para evitar que o crescimento do setor comprometa a saúde financeira das famílias”, conclui.
A pesquisa foi realizada entre 13 e 25 de junho de 2025, com 800 consumidores de todas as classes econômicas que realizaram compras online no último ano.
ICL fez documentário sobre bets
O ICL (Instituto Conhecimento Liberta) vem alertando há tempos sobre o perigo das bets. O instituto realizou a série documental “Bets: o jogo sujo que ninguém comenta”, mostrando o perigo para a saúde pública causado pelas apostas online. Para assisti-la, clique aqui.