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Como o acordo entre Trump e Xi pode afetar o Brasil e outros países

por Adriana Cardoso
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A trégua comercial de um ano firmada na quinta-feira (30) entre os presidentes Donald Trump e Xi Jinping trouxe alívio imediato para o Brasil, especialmente no setor da soja. A principal preocupação era a possibilidade de Washington impor cotas de importação à China — medida que limitaria o espaço do produto brasileiro no maior mercado comprador do mundo.

Como a restrição não foi incluída no acordo, os produtores nacionais respiraram aliviados. No primeiro semestre, o Brasil respondeu por 65% da soja adquirida pela China, segundo dados do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais).

Ao blog da jornalista Míriam Leitão, em O Globo, a economista Larissa Wachholz, coordenadora do Programa Ásia do Cebri, disse que o cenário representa “uma volta à normalidade”.

“Tradicionalmente, Brasil e Estados Unidos dividem o mercado chinês. Mesmo com o crescimento recente, o fornecimento brasileiro segue dentro das margens históricas”, avalia Wachholz.

Porém há especialistas que defendem que o governo braisleiro deveria se prevenir, uma vez que, como Trump muda de ideia o tempo todo, ele pode tentar impor cotas novamente.

Acordo Trump-Xi pode inundar o Brasil de produtos chineses

Outro ponto sensível do acordo é a redução das tarifas médias sobre produtos chineses importados pelos EUA — agora em 47%, cerca de dez pontos abaixo do nível anterior. Para alguns analistas, isso pode aliviar o risco de uma “inundação” de produtos chineses no mercado brasileiro.

A China enfrenta excesso de capacidade produtiva (“overcapacity”) em setores como carros elétricos, painéis solares e baterias, e continuará buscando espaço em mercados emergentes, como o Brasil.

Terras-raras: a disputa invisível

Acordos sobre terras-raras — metais essenciais para a indústria de tecnologia, energia e defesa — também estão no centro da reaproximação. A China, líder global em extração e refino, suspendeu por um ano as restrições à exportação desses minerais. Isso traz previsibilidade às cadeias globais, altamente dependentes desses insumos.

O Brasil, segundo país com as maiores reservas, ainda exporta o material sem agregar valor, enviando-o como matéria-prima. Falta ao Brasil, segundo especialistas, tecnologia para processar essas reservas.

Por isso, veem oportunidade para o país avançar em minerais críticos, aproveitando o novo ciclo de negociação entre Brasília e Washington.

Chips e tecnologia: interdependência forçada

Embora os chips de inteligência artificial não tenham sido pauta formal da reunião, o tema paira sobre as relações entre as potências. Cerca de 25% das vendas da Nvidia, líder mundial no setor, dependem do mercado chinês.

Economistas afirmam que o acordo reduz o risco de paralisações em cadeias produtivas globais e pode aliviar gargalos em setores industriais no México e no Brasil, que já sentiam os efeitos da escassez de semicondutores.

Lugar do Brasil no novo tabuleiro global

Para o Brasil, o impacto imediato da trégua é ambíguo. De um lado, há estabilidade para a soja e maior previsibilidade comercial. De outro, cresce a competição com os Estados Unidos em produtos agrícolas e industriais.

A China, que comprou quase 66% das exportações brasileiras de soja em 2025, comprometeu-se com os EUA a adquirir pelo menos 25 milhões de toneladas anuais do grão pelos próximos três anos. Isso pode pressionar os preços no médio prazo.

Apesar disso, analistas veem o Brasil em posição de destaque no fornecimento da commodity.

Lula, Trump e a diplomacia do pragmatismo

A trégua também ocorre em meio à reaproximação diplomática entre Brasília e Washington. No último domingo (26), Lula e Trump se reuniram para discutir tarifas americanas sobre produtos brasileiros e possíveis acordos bilaterais.

O chanceler Mauro Vieira afirmou que o Brasil quer negociar “setor por setor”, incluindo minerais críticos e terras-raras. Apesar do tom cordial, Trump ressaltou que boa vontade não garante redução de tarifas.

Para analistas, o Brasil pode se beneficiar de um ambiente global menos tenso, mas precisa definir estratégia própria para não ser apenas espectador da disputa entre as duas maiores economias do mundo.

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