Por Cleber Lourenço
A pesquisa AtlasIntel/Bloomberg de outubro provocou um abalo interno nos que são entusiastas da candidatura do governador paulista Tarcísio de Freitas ao planalto no ano que vem. O levantamento mostra que Lula venceria todos os adversários testados, inclusive Tarcísio, ainda no primeiro turno, e que Fernando Haddad supera o governador paulista em simulações de primeiro turno — um dado que os próprios aliados admitem não esperar.
No recorte da AtlasIntel, Haddad aparece com 43,1% das intenções de voto, contra 30,1% de Tarcísio de Freitas, uma diferença de 13 pontos percentuais. Os demais nomes testados — Ronaldo Caiado (7%), Ratinho Jr. (3,5%) e Romeu Zema (2,6%) — aparecem muito atrás, o que reforça o isolamento do campo conservador e a vantagem do campo lulista mesmo sem o presidente na disputa direta.
Segundo membros da articulação política do grupo, o impacto foi imediato. “O cenário ficou mais complexo do que estávamos analisando”, resumiu uma fonte envolvida nas conversas. Nos trackings internos do campo bolsonarista, Lula já aparecia numericamente à frente, a novidade foi Haddad em posição superior a Tarcísio.
A AtlasIntel registrou 51,2% de aprovação para Lula — o melhor índice do ano — e mostrou que a desaprovação caiu para 48,1%. Na avaliação comparativa, Lula é visto como melhor do que Bolsonaro em todas as áreas de governo, com destaque para políticas sociais (+24 pontos), moradia (+20) e relações internacionais (+21). Essa melhora de percepção pública, especialmente na pauta econômica, tem sido interpretada no QG de Tarcísio como um dos fatores que elevam a popularidade de Lula.
De acordo com um integrante do grupo político do governador, a preocupação não é apenas eleitoral, mas simbólica: “O governo está conseguindo se recompor na narrativa de eficiência e estabilidade, enquanto a oposição ainda não encontrou uma agenda que empolgue fora das redes”.
Interlocutores de Tarcísio avaliam que o governador precisa recalibrar sua comunicação, mas que isso não é uma tarefa simples. O governador paulista depende do bolsonarismo e seus votos, porém também acaba herdando também a rejeição do ex-presidente, a mesma que deu a vitória a Lula em 2022. Essas mesmas fontes reconhecem que não é uma tarefa simples já que o governador tem identificação com a extrema direita e o que o PT vem se esforçando para reforçar o viés político extremista de Tarcísio.
Entre aliados de Bolsonaro, há quem admita que a AtlasIntel acendeu um alerta: o campo conservador segue dividido entre o legado do ex-presidente e a tentativa de renovação liderada por Tarcísio. A dúvida é se haverá tempo para consolidar um nome competitivo sem o peso das investigações e sem a dependência total do eleitorado mais ideológico.
O diagnóstico de uma das lideranças que acompanha o governador sintetiza o clima: “Os dados não inviabilizam o projeto, mas mudam completamente o ritmo. Vamos ter que correr antes do governo consolidar o discurso de estabilidade”.