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Economia e política explicam recuperação de Lula, não marketing eleitoral, diz diretor da Quaest

por Chico Alves
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Em artigo exclusivo publicado na edição 6 da revista Liberta, Felipe Nunes, diretor da consultoria Quaest, analisa os fatores que levaram ao crescimento da aprovação do governo Lula e do próprio presidente nas últimas pesquisas realizadas.

Nunes acredita que a recuperação “não é uma simples reparação de reputação ou efeito de marketing eleitoral – é resultado de fatores políticos e econômicos, somados a um novo posicionamento político”.

Leia a seguir um trecho do artigo, que pode ser lido na íntegra no site da revista Liberta

Felipe Nunes

Por que Lula recupera popularidade – e por quanto tempo?

Desde o ápice do escândalo do INSS, no começo de 2025, o governo Lula enfrentou o mais agudo momento de desgaste de seu mandato: pesquisas da Quaest mostravam desaprovação beirando 57% e aprovação em apenas 40%.

Um escândalo de corrupção, combinado à percepção generalizada de promessas não cumpridas, com impacto econômico negativo da inflação de alimentos, parecia fragilizar o arcabouço simbólico do seu mandato – muitos analistas e eleitores se perguntavam se o desgaste seria irreversível.

Nas inúmeras palestras que dei ao longo do primeiro semestre deste ano, enfatizei o meu fascínio pela política, justamente pela capacidade que presidentes têm de ganhar ou perder eleição de forma inesperada. E pela capacidade que governos têm de recuperar espaço político, mesmo depois de crises graves.

Enfatizei, no caso brasileiro, as duas reversões de tendência produzidas por Lula e Dilma em seus primeiros mandatos. Lula chegou a ter 5 pontos de saldo negativo de avaliação em agosto de 2005, durante o mensalão, para ser reeleito com certa facilidade em 2006. Dilma teve mais de 20 pontos de queda de popularidade durante as jornadas de 2013, mas recuperou-se e foi reeleita em 2014.

O que estamos vendo desde julho no Brasil é uma mudança de cenário que, embora ainda seja discreta, é politicamente significativa: a avaliação positiva do governo passou de 40% para 48%, enquanto a desaprovação recuou de 57% para 49%, na comparação de julho com outubro. A diferença, que era de 17 pontos, hoje está em 1 ponto – um empate técnico na margem de erro. Mais importante do que o movimento numérico é o que ele revela sobre as motivações sociais por trás dessa mudança.

Espaço de estadista

A recuperação observada não é uma simples reparação de reputação ou efeito de marketing eleitoral – é resultado de fatores políticos e econômicos, somados a um novo posicionamento político.

Em primeiro lugar, o chamado “tarifaço” imposto pelos Estados Unidos ao Brasil acionou uma espécie de mecanismo de unidade nacional. Algo que os norte-americanos gostam de chamar de”‘rally around the flag”, quando o povo e o governo se unem em torno da bandeira para lutar contra um inimigo estrangeiro: 71% dos entrevistados julgaram o uso de tarifas pelos EUA como equivocado, e 48% enxergaram no governo uma postura correta ao responder diplomática e firmemente. Nessa disputa simbólica, Lula ocupou o espaço de estadista, e não apenas de gestor desgastado.

Em segundo lugar, o esmorecimento da pressão inflacionária – especialmente no custo dos alimentos –suavizou uma ferida que pesava no humor social. Embora ainda existam milhões que sentem no bolso o peso da inflação que começou depois da pandemia, o dado de que menos pessoas percebem elevação extrema dos preços sinaliza que o horizonte de insatisfação perdeu intensidade.

Paralelamente, a estratégia discursiva do governo explicou melhor suas medidas econômicas, conectando-as a narrativas de justiça social e proteção dos mais vulneráveis – uma aproximação com eleitores que já estavam em zonas limítrofes de confiança.

Um elemento menos visível, mas talvez mais poderoso, é o efeito defensivo que opera em sociedades polarizadas: muitos já dizem ter mais medo de um retorno de Bolsonaro do que de uma continuidade de Lula. Esse temor mobiliza o eleitorado para reforçar o governante atual, não como aprovação plena de todas suas decisões, mas como “mal menor” em um cenário de ameaça percebida. A política torna-se, então, um jogo de contraposições e segurança, e não apenas de adesões entusiasmadas. Com um discurso alinhado “ao lado do povo brasileiro” e com o principal adversário sendo julgado, condenado e cometendo erros políticos, um pedaço do eleitorado voltou a ver em Lula uma opção melhor.

Mas será que essa recuperação é sustentável? Há dois riscos que podem comprometer a situação do governo.

Primeiro, é perigoso que a recuperação se sustente apenas por incentivos externos ou simbólicos, e não por entrega de resultados concretos. O avanço da aprovação até 48% ainda revela um cenário difícil para o governo. Mesmo com tantos programas, com mais investimento social e com discurso acertado na política externa, o percentual de desaprovação continua alto, revelando rejeições estruturais em boa parte do eleitorado do país.

Se os efeitos do tarifaço se dissiparem, ou se a economia real desandar (inflação, desemprego, desequilíbrios fiscais), o impulso simbólico pode esvair-se como vapor. Além disso, setores mais refratários – eleitores de baixa renda, católicos, populações que sentem mais o peso dos cortes sociais – podem sair frustradas no ano que vem sem sinalizações claras de pacto redistributivo.

Por isso, a reforma da renda foi um avanço político tão importante para Lula. Conseguir entregar justiça tributária como narrativa, sem precisar polarizar mais o país, tende a fornecer dividendos eleitorais no ano que vem. (…)

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