O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reconheceu nesta sexta-feira (17) que a tarifa de 100% aplicada a produtos chineses não é uma medida sustentável a longo prazo. Apesar disso, afirmou que foi “forçado” a adotar a decisão diante da postura de Pequim nas negociações comerciais, reforçando a necessidade de um acordo justo entre os dois países.
Em entrevista à Fox Business Network, Trump disse que a China “está sempre buscando vantagem” e admitiu não saber qual será o resultado final da disputa comercial. O republicano confirmou que pretende se reunir com o presidente Xi Jinping nas próximas semanas, em encontro que deve ocorrer na Coreia do Sul, segundo o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent.
Também nesta sexta, a missão chinesa na Organização Mundial do Comércio (OMC) acusou Washington de enfraquecer o sistema multilateral de comércio desde que o novo governo americano assumiu em 2025.
Em comunicado, Pequim denunciou o uso recorrente de tarifas retaliatórias, sanções unilaterais e políticas discriminatórias, que, segundo o país, violam compromissos firmados na OMC. Um relatório do Ministério do Comércio da China deve avaliar a conduta dos Estados Unidos em 11 áreas e renovar o apelo para que Washington respeite as regras internacionais e coopere com os demais países-membros na busca por uma governança econômica global mais equilibrada.
Escalada de tensões comerciais
As relações entre China e Estados Unidos se deterioraram ainda mais nesta semana, após uma nova rodada de tarifas e declarações contundentes de ambos os lados.
Na última sexta-feira (10), Trump criticou a decisão chinesa de restringir a exportação de elementos usados em terras raras — insumos estratégicos para setores de alta tecnologia — e anunciou uma nova tarifa de 100% sobre produtos vindos da China, com início previsto para 1º de novembro.
O presidente também ameaçou encerrar negócios com empresas chinesas ligadas à produção de “óleo de cozinha e outros itens comerciais”, em resposta à suspensão da compra de soja americana por Pequim, ocorrida em maio.
“Acredito que a China, ao deixar de comprar nossa soja e causar dificuldades aos nossos produtores, comete um ato economicamente hostil”, escreveu Trump na plataforma Truth Social.
Em contrapartida, o Ministério do Comércio da China afirmou que os controles sobre as exportações de terras raras são uma resposta direta às medidas unilaterais dos EUA, e advertiu que o país “não teme uma guerra tarifária”.
“Ameaçar impor tarifas altas a qualquer momento não é a forma correta de lidar com a China. Nossa posição sobre guerras tarifárias é consistente: não queremos brigar, mas não temos medo de brigar”, declarou o governo chinês.
Exportadores chineses buscam novos mercados
Com o aumento das tarifas americanas, empresas chinesas têm redirecionado suas exportações para regiões como Europa, América Latina e Oriente Médio. De acordo com a agência Reuters, muitos exportadores tentam compensar a perda do mercado americano conquistando novos compradores — entre eles, o Brasil tem se destacado.
Apesar da queda nas vendas para os EUA, as exportações totais da China cresceram 7,1% nos primeiros nove meses do ano, demonstrando resiliência da economia. Ainda assim, empresários relatam queda de preços e margens menores, com alguns operando até com prejuízo.
Durante a tradicional Feira de Cantão, a maior feira de comércio do mundo, foi notada uma quase ausência de compradores americanos, enquanto o interesse de outros países aumentou.