Casa EconomiaMauro Vieira discute tarifaço com Marco Rubio nesta 5ª; veja o que está em jogo

Mauro Vieira discute tarifaço com Marco Rubio nesta 5ª; veja o que está em jogo

por Adriana Cardoso
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O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, se reúne nesta quinta-feira (16) com o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, na Casa Branca, em Washington, para discutir o tarifaço imposto pelo governo estadunidense sobre produtos brasileiros. O encontro está agendado para as 14 horas no horário local (15 horas em Brasília) e foi solicitado pelo próprio governo norte-americano, com o objetivo de preparar o terreno para uma futura reunião entre os presidentes Lula (PT) e Donald Trump.

No centro da agenda bilateral está o esforço do Brasil para reverter a tarifa de 50% imposta por Washington sobre uma ampla gama de produtos brasileiros — medida que tem gerado perdas comerciais significativas para os dois lados. O governo brasileiro também pretende discutir a retirada de sanções aplicadas a autoridades nacionais, enquanto os Estados Unidos devem pressionar por maior acesso a minerais estratégicos e por condições mais favoráveis às big techs americanas.

A expectativa é que a reunião de hoje funcione como um ensaio para um encontro entre os dois presidentes, mas ainda não há data definida para isso. Por outro lado, o sinal político da aproximação já despertou expectativas nos setores produtivos e exportadores brasileiros.

Desde a imposição do tarifaço, há mais de dois meses, empresas brasileiras têm enfrentado dificuldades para manter contratos com os EUA. Dados do governo federal indicam que cerca de 55% das exportações brasileiras para o mercado norte-americano foram diretamente afetadas — o equivalente a US$ 22 bilhões por ano. Entre os setores mais atingidos estão o de café, carne, ferro, aço, madeira, calçados e máquinas.

Tarifaço impacta negócios e empregos no Brasil

Estados como Ceará e Minas Gerais já sentem os reflexos. Fábricas têm cortado gastos e buscado novos clientes na Europa e na Ásia, enquanto produtores de alimentos e pescados amargam estoques encalhados à espera de compradores alternativos, como China e Emirados Árabes. A tentativa de redirecionar exportações para outros mercados, no entanto, tem se mostrado mais lenta e complexa do que o previsto.

O Brasil está tentando ampliar a gama de parceiros comerciais para reduzir a dependência de grandes mercados, como o norte-americano. Um dos entraves para esse avanço, segundo especialistas, é que o país mantém tarifas médias elevadas (cerca de 12%) e uma rede limitada de acordos comerciais, o que dificulta o acesso preferencial a novos mercados. Além disso, segue atrelado às regras do Mercosul, que impõe uma Tarifa Externa Comum para importações de fora do bloco, o que reduz a flexibilidade para negociações bilaterais mais ágeis.

Quem é Marco Rubio, o chefe da diplomacia dos EUA

Escolhido por Trump para comandar o Departamento de Estado, Marco Rubio é um político influente e com perfil ideológico forte dentro do Partido Republicano. Filho de imigrantes cubanos, nascido em Miami em 1971, Rubio tem uma trajetória marcada por discursos duros contra regimes como Cuba, Venezuela e China — o que alimenta dúvidas sobre sua disposição para negociar com governos que não se alinham automaticamente à agenda conservadora dos EUA.

Rubio ficou conhecido por sua retórica agressiva quando ainda era senador. Ele liderou sanções contra autoridades brasileiras ligadas ao governo Lula, incluindo a suspensão de vistos e acusações públicas contra ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), como Alexandre de Moraes. Foi também um dos defensores mais ferrenhos do tarifaço contra o Brasil, alegando que o país favorecia excessivamente a China.

Sua nomeação para o cargo de secretário de Estado foi inicialmente vista com reservas pelo Itamaraty. No entanto, interlocutores do governo brasileiro reconhecem que negociar com alguém próximo ao presidente Trump — e com seu aval — pode facilitar acordos no médio prazo, especialmente se houver pragmatismo nas tratativas.

Geopolítica e minerais críticos entram na pauta

Para além das tarifas, os Estados Unidos demonstram interesse crescente nos minerais estratégicos brasileiros, especialmente as chamadas “terras raras”, essenciais para a produção de semicondutores e equipamentos de defesa. O Brasil possui a segunda maior reserva mundial desses elementos, atrás apenas da China, que recentemente restringiu suas exportações — o que acendeu um alerta em Washington.

Segundo analistas de comércio internacional, os EUA devem pressionar por um acordo que favoreça o acesso a esses recursos, em troca de eventuais concessões tarifárias. O cenário geopolítico também entra em jogo: Washington deseja que o Brasil se distancie do Brics e da proposta de uma moeda comum discutida pelo grupo, que inclui Rússia, Índia, China e África do Sul.

Especialistas afirmam que o governo brasileiro terá de equilibrar interesses econômicos com a manutenção de uma política externa autônoma. Um eventual aceno de distanciamento do Brics poderia facilitar concessões por parte dos EUA, mas também gerar tensões com parceiros estratégicos.

OMC, pressões internas e o papel do Mercosul

Paralelamente às negociações diretas com os EUA, o Brasil também acionou a OMC (Organização Mundial do Comércio), questionando a legalidade do tarifaço. Embora existam argumentos técnicos favoráveis ao Brasil — como a ausência de estudos que justifiquem as sobretaxas —, a efetividade desse tipo de recurso é limitada. Casos semelhantes já mostraram que, mesmo quando a OMC decide a favor de um país, a reversão das medidas pode levar anos ou nem acontecer.

Por isso, há um consenso entre especialistas de que o caminho mais curto para reverter as tarifas é político, e não técnico. Nesse contexto, a reunião entre Rubio e Vieira é vista como uma oportunidade crucial.

Cenários possíveis e próximos passos

Mesmo que não haja um acordo imediato, diplomatas e representantes do setor produtivo enxergam a reunião com otimismo. A leitura mais realista é que o governo Trump pode adotar uma estratégia de “meio-termo”: elevar tarifas para forçar negociações e, em seguida, oferecer reduções parciais em troca de compromissos do Brasil em outras áreas, como tecnologia, segurança e geopolítica.

A médio prazo, especialistas reforçam que o Brasil precisa repensar sua política comercial, aumentar sua rede de acordos e adotar reformas internas para ganhar competitividade internacional. Além das negociações com os EUA, o país busca avançar em frentes como o acordo Mercosul-União Europeia e novos pactos bilaterais na Ásia e no Oriente Médio.

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