Casa EconomiaEducação e escolaridade

Educação e escolaridade

por Luiz Antonio Simas
0 comentários
educacao-e-escolaridade

Na semana da efeméride do “Dia dos Professores”, é justo lembrar da sentença sucinta de Darcy Ribeiro: a crise da educação no Brasil não é uma crise; é um projeto. Ainda que concorde, ouso ser um pouco mais preciso que o mestre. Não é exatamente a educação que vive uma crise meticulosamente projetada; e sim a escola como instituição educativa.

Educação é um fazer constante e cotidiano, expresso nas artimanhas de se experimentar o mundo em qualquer canto: ruas, praças, feiras, universidades, quadras de escolas de samba, botequins, igrejas, terreiros, campos de futebol, florestas, livrarias, bailes, museus, festas populares etc

Não existe escola democrática sem a ideia de negociação permanente e o princípio de que não há detentores do monopólio do saber, da inteligência, da beleza estética ou da verdade. As sociedades contemporâneas são complexas e heterogêneas. A escola, por isso mesmo, deve pensar permanentemente o dissenso criativo e o convívio entre diferentes com direitos correlatos. E para isso, precisa discutir, debater e fomentar ideias.

Charles Taylor dizia que um indivíduo e um grupo de pessoas podem sofrer um dano irreparável se a gente ou a sociedade que os rodeia lhes mostram como reflexo, uma imagem degradante, limitada e depreciada sobre eles. Frantz Fanon falava do racismo simbólico, que desqualifica saberes dos subalternos e incute a noção da inferioridade de suas culturas como verdade indiscutível.

Nada é pior para trabalhar a diversidade que o modelo de escola determinista, individualista e privatista: aquele que destaca mais o que a pessoa não sabe do que aquilo que ela é capaz de saber e ornamenta isso com o discurso da neutralidade, como se ela fosse possível. Esse modelo é especialista em destroçar a estima dos educandos e realizar a tarefa da degradação dos corpos. É a escola como fábrica de gentes doentes e desencantadas.

A escola como instituição não pode ser estruturalmente seletiva e inimiga da diversidade. Apesar disso, continuamos (com bravas exceções) nos baseando na avaliação de resultados (e não na avaliação de processos) sobre critérios supostamente objetivos — provas e testes convencionais, por exemplo. Esse modelo esconde a não aceitação da diversidade ao usar critérios fechados para avaliar diferentes.

O modelo educacional exclusivamente centrado na sala de aula é uma instituição falida (a sala de aula, de novo com exceções, é um espaço estruturado para domesticar e controlar os corpos), o processo de aprendizagem tem que dialogar com a rua, o ensino baseado em avaliações convencionais fracassou, o excesso de conteúdo é um disparate, os currículos normativos produziram conhecimentos vazios e a imposição do cânone ocidental na educação brasileira — como recorte quase exclusivo do saber — é fomentadora de preconceito, intolerância, violência e dor contra os que não se enquadram no padrão uniforme que o cânone preconiza como modelo a ser seguido.

A cereja do bolo do ataque à escola no Brasil é uma excrescência que avançou nos últimos anos resumida no bordão “escola sem partido“; lema vazio que desqualifica professoras e professores e, sobretudo, alunas e alunos, imaginando que eles sejam marionetes no processo de aprendizagem. A turma da escola sem partido é aquela que vê a educação — um campo de experiências inventivas de libertação dos mundos pela cultura — como um espaço de adestramento para o mercado e produção em larga escala de pessoas adoentadas.

Como, entretanto, promover o encontro entre a escolaridade e a educação em um contexto de precarização, sob todos os aspectos, do magistério? Temos políticas públicas efetivamente interessadas na valorização da educação, da escola, das professoras e professores e de todos os profissionais envolvidos no ambiente escolar?

É o desafio que está colocado. Não concebo missão mais urgente para a construção de um país justo, fraterno e plural: o Brasil precisa promover o encontro entre a escola e a educação como tarefa de afirmação da vida e invenção soberana do mundo.

você pode gostar