Por Alice Maciel
Apontado pela Polícia Federal como “homem da mala” de dinheiro no esquema investigado na Operação Rejeito, Felipe Lombardi Martins é sócio do deputado federal mineiro Luiz Fernando Faria (PSD-MG) em uma empresa de loteamento. Ambos trabalharam no gabinete do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) entre 2019 e 2022.
Em outubro de 2022, Faria foi eleito para a Câmara dos Deputados e atuou como líder da bancada mineira até junho deste ano. Ele e Pacheco fazem uma “dobradinha” no envio de emendas parlamentares a prefeituras mineiras — parceria que é propagandeada nas redes sociais.
A empresa Mirante da Mantiqueira, que tem Felipe Lombardi Martins e Luiz Fernando Faria como sócios, também conta em seu quadro societário com a Minerar Participações S/A, que foi alvo da PF na Operação Rejeito.
Deflagrada em 17 de setembro, a operação apura um esquema bilionário de corrupção para facilitar a exploração ilegal de minério de ferro por meio de licenças ambientais fraudulentas.
Preso pela PF, Felipe Lombardi Martins é acusado de ser o operador financeiro do grupo, “responsável pela triangulação de valores, controle de aportes, saques em espécie e entrega de propinas”. Segundo investigadores da PF, ele se encontrava com servidores públicos “para repasse de valores ilícitos” e teve “atuação central na lavagem de dinheiro e na ocultação patrimonial”.
Felipe Lombardi Martins, ex-assessor do senador Rodrigo Pacheco e apontado pela PF como operador financeiro do esquema investigado na Operação Rejeito – Foto: Facebook/Emater-MG
As provas colhidas no inquérito são de junho do ano passado e janeiro deste ano — período em que Martins já não trabalhava mais com Rodrigo Pacheco. Ele atuou no gabinete do senador como assistente parlamentar júnior de março de 2019 a dezembro de 2022, conforme revelou a Repórter Brasil.
O ICL Notícias apurou que ele integrou a equipe do então presidente do Senado no mesmo período que Luiz Fernando Faria, nomeado em abril de 2019 e exonerado em junho de 2022. Um ano depois, os dois ex-assessores de Pacheco viraram sócios.
O deputado tem participação na Mirante da Mantiqueira por meio da Orleans Empreendimentos e Participações, conforme informações da Receita Federal.
Procurado, Faria afirmou que não tem “qualquer envolvimento com os fatos apurados na operação”. Acrescentou, sem responder sobre sua relação com Martins: “Também não posso lhe ajudar com nenhuma outra informação por desconhecer completamente os fatos relacionados com a Operação Rejeito”.
Já o senador Rodrigo Pacheco destacou, por meio de nota, que Luiz Fernando Faria e Felipe Lombardi Martins foram servidores do Senado até o ano de 2022 e que ele não teve “conhecimento de nada que os desabonasse no período”. “Desconheço os vínculos pessoais e empresariais que tenham mantido entre si ou com terceiros após o desligamento das funções”, completou.
O deputado Luiz Fernando Faria e o senador Rodrigo Pacheco não são investigados na Operação Rejeito.
O deputado Luiz Fernando Faria ao lado do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, durante o ato Democracia Inabalada, em Brasília. Foto: Reprodução/Instagram
Escritório de Pacheco defende mineradora investigada
O escritório de advocacia do qual Pacheco é sócio já defendeu uma das mineradoras investigadas pela PF, a Gute Sicht, apontada como central no esquema, além de seu sócio, Alan Cavalcante do Nascimento, apontado pela PF como líder da organização criminosa e atualmente preso.
Fundado em 2016 por Pacheco, o escritório Grimaldi & Rodrigues Sociedade de Advogados atuou para a empresa em processos criminais ligados à exploração ilegal de minério de ferro na serra do Curral, em Belo Horizonte (MG).
O advogado Guilherme Grimaldi informou ao ICL Notícias que o serviço foi prestado à Gute Sicht entre 2020 a 2024, quando o escritório estava sob a sua coordenação. Ele destacou que, neste período, o senador Rodrigo Pacheco estava licenciado da advocacia. O mesmo foi enviado em nota pelo político.
“O escritório foi fundado por Rodrigo Pacheco, no ano de 2016. Em 2021, ao assumir a presidência do Congresso Nacional, Rodrigo se licenciou da advocacia e, consequentemente, do escritório, o que perdurou até o fim de seu mandato. Atualmente, Rodrigo retornou ao escritório e é um dos sócios”, destacou Grimaldi por e-mail.
Pacheco tem uma relação de longa data com outro sócio da Gute Sicht, João Alberto Lages. Os dois fizeram parceria na disputa das eleições de 2014, quando Lages concorreu a deputado estadual e Pacheco, a deputado federal. “Eu o conheço desde 2014, em razão da militância político-partidária. Desenvolvemos uma amizade nesse período, quando ele também se tornou parlamentar”, afirmou o senador em nota.
João Alberto Lages, ex-deputado estadual por Minas Gerais. Foto: Reprodução/ALMG
De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 2022, Lages doou R$ 100 mil para a campanha de Luiz Fernando Faria à Câmara dos Deputados e outros R$ 100 mil para a campanha do Ministro de Minas e Energia Alexandre Silveira.
Segundo a PF, ele atuou como “articulador político e institucional do grupo, responsável por tráfico de influência, pagamentos de propina, manipulação normativa e coordenação de ações junto a órgãos ambientais e culturais”. Os investigadores apontam ainda que ele “mantém interlocução direta com servidores públicos e lobistas, sendo peça-chave na cooptação institucional”.
Lages está preso desde a deflagração da Operação Rejeito, acusado de integrar o núcleo político do esquema.
Destombamento da Serra da Piedade
Outro ex-funcionário do gabinete de Rodrigo Pacheco, Pablo César de Souza, também é citado nas investigações, mas não está entre os investigados. Conhecido como Pablito e casado com a deputada federal Greyce Elias (Avante-MG), ele foi assessor parlamentar do senador entre 2019 e 2023 e é próximo de João Alberto Lages.
A PF encontrou conversas entre Pablito e a ex-superintendente do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico (Iphan), Débora França, sobre o projeto de destombamento da Serra Piedade, em Caeté (MG).
Pablito afirmou ao ICL Notícias não ter conhecimento “sobre conversas com Débora em inquérito”. Disse que a procurou apenas para saber “se um direito minerário estava ou não em área tombada”. “Ela, na época, demorou a responder e, então, acabei optando por não adquirir esse direito minerário que estava sendo ofertado no mercado”, acrescentou.
Ex-vereador de Belo Horizonte, Pablito chegou a comandar, no governo de Michel Temer (MDB), a Agência Nacional de Mineração (ANM) em Minas Gerais. Sua nomeação gerou pedidos de demissão em massa no órgão, conforme divulgado pela imprensa à época.