Casa EconomiaConsumidores dos EUA devem pagar até 55% do custo do tarifaço de Trump

Consumidores dos EUA devem pagar até 55% do custo do tarifaço de Trump

por Adriana Cardoso
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O tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está pesando cada vez mais no bolso do consumidor norte-americano. Segundo relatório do Goldman Sachs divulgado no último dia 12, a população estadunidense deve arcar com até 55% dos custos do tarifaço implementado durante o governo Trump, à medida que empresas repassam os aumentos aos preços finais.

De acordo com os economistas Elsie Peng e David Mericle, os impactos sobre os preços ao consumidor do tarifaço ainda estão em curso, pois o repasse pelas empresas ocorre de forma gradual.

O estudo estima que as empresas norte-americanas assumirão cerca de 22% dos custos, enquanto exportadores estrangeiros absorverão 18% — reduzindo suas margens para manter competitividade. Apenas 5% dos impactos seriam evitados.

“O efeito inflacionário já é concreto: as tarifas elevaram os gastos pessoais com consumo em 0,44% neste ano e devem levar o índice de inflação a 3% até dezembro”, destaca o relatório.

Trump iniciou a política de tarifas com o objetivo de reduzir déficits comerciais e estimular a produção interna, mas os dados mostram que o ônus maior não tem sido arcado pelos parceiros comerciais, como defende o presidente. Na prática, as empresas dos EUA pagam os tributos na alfândega e, inevitavelmente, o consumidor sente o impacto no caixa.

O relatório do Goldman não inclui a ameaça mais recente de Trump de aumentar as tarifas sobre a China para 100% e impor novas restrições à exportação de softwares “críticos” dos EUA.

Café brasileiro simboliza efeitos do tarifaço

Um exemplo claro da distorção provocada pelo tarifaço é o café brasileiro. Embora Trump tenha afirmado recentemente ao presidente Lula (PT) que os EUA “sentem falta” do produto, a verdade é que a tarifa de 50% sobre o café importado do Brasil está afetando diretamente os consumidores norte-americanos.

Em agosto, o preço do café nos EUA subiu 3,6%, quase nove vezes a média da inflação mensal (0,4%). No acumulado de 2025, o aumento já chega a 20,9%, o maior desde 1997.

Analistas apontam quatro fatores principais para essa escalada: eventos climáticos que prejudicam a produção (especialmente no Brasil e na Colômbia), crescimento da demanda mundial — puxado pela China —, queda dos estoques globais e, por fim, o tarifaço.

Sendo o Brasil o maior fornecedor de café dos EUA, a taxação exagerada parece insustentável a longo prazo. Para comparação, as tarifas sobre o café colombiano — também impostas por Trump — ficaram em apenas 10%, sinalizando uma possível base para renegociação com o Brasil.

Mesmo com o ambiente conturbado, a rentabilidade dos produtores brasileiros não foi drasticamente afetada. Segundo a Cecafé, de janeiro a setembro deste ano, as exportações caíram 20,5% em volume, mas a receita cambial aumentou 30% devido à valorização do produto. Isso comprova que a alta de preços no mercado global está relacionada a fatores estruturais, e não apenas às tarifas americanas.

O retorno do café como ativo estratégico

O café, que já foi o motor da economia brasileira no início do século XX, volta a ganhar protagonismo. Em 1920, a commodity representava cerca de 70% das exportações do país. Com a crise de 1929 e a industrialização impulsionada por Getúlio Vargas, essa centralidade foi sendo substituída por uma pauta mais diversificada.

Ainda assim, em 1964, o café representava 43% das exportações brasileiras. Na virada para os anos 1980, essa fatia caiu para 15%. Hoje, embora não tenha o mesmo peso percentual, o café volta a ser um ativo estratégico diante das tensões comerciais globais e da valorização do produto.

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