Na inauguração da fábrica da montadora BYD, em Camaçari (BA), o presidente Lula (PT) subiu o tom contra o Congresso Nacional após a retirada de pauta da medida provisória que previa a taxação de investimentos de alta renda. Segundo ele, a rejeição da proposta pelos parlamentares favoreceu “bilionários que ganham muito e pagam pouco”. Para Lula, a aprovação da nova tributação é apenas “uma questão de dias”.
“Ontem [quarta-feira, 8/10] foi triste, porque uma parte do Congresso Nacional votou contra a taxação que a gente queria fazer dos bilionários deste país […] E vocês não podem ficar quietos”, disse Lula em discurso.
A medida provisória rejeitada previa mudanças na tributação de ativos como LCI, LCA e debêntures incentivadas — instrumentos que beneficiam principalmente investidores de alta renda. Para o governo, o aumento da arrecadação com esses ativos seria fundamental para compensar a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, aprovada recentemente na Câmara e ainda em análise no Senado.
Em entrevista a uma rádio na Bahia, Lula disse que o “Congresso Nacional poderia ter aprovado para que os ricos pagassem um pouco mais de imposto”. Segundo ele, a taxação proposta para fintechs baixou de 18% para 12% e, ainda, assim, “eles não quiseram, se recusaram a pagar”. “É engraçado que o trabalhador paga 27,5% de Imposto de Renda sobre o seu salário e os ricos não querem pagar 12%, não querem pagar 18%. (…) Eles não derrotaram o governo, derrotaram o povo brasileiro, derrotaram a possibilidade de melhorar a qualidade de vida do povo brasileiro tirando mais dinheiro dos ricos e distribuindo para os pobres. Foi isso que aconteceu no Congresso Nacional”, disse.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também fez um vídeo para as redes sociais, direcionado ao eleitor do presidente Lula.
“O resultado das urnas precisa ser respeitado — incluir o pobre no Orçamento e o rico no Imposto de Renda. Esse é o compromisso desse governo com o povo que o elegeu. Os direitos do povo são inegociáveis e o futuro do país não será sacrificado num tabuleiro de interesses menores. A MP dos bilionários, bancos e bets pode ter caído, mas nós seguiremos com fé ao lado do povo brasileiro, defendendo os seus direitos e enfrentando todo e qualquer privilégio que os ameacem”, falou Haddad.
Lula diz que não houve acordos para “ricaço” pagarem imposto
Na prática, o projeto previa um imposto mínimo progressivo para rendimentos acima de R$ 600 mil anuais, com teto de 10% para quem recebe mais de R$ 1,2 milhão por ano. “Não houve acordo para que os ricaços pagassem 12%”, lamentou Lula, em crítica direta à articulação parlamentar, durante fala na fábrica da BYD.
O Planalto viu na derrota um revés estratégico em um ano pré-eleitoral, já que a medida também visava conter o crescimento de despesas obrigatórias em 2026. Ainda assim, Lula indicou que não pretende recuar. “Eles podem saber que é uma questão de dias: eles vão pagar o imposto que merecem aqui no Brasil”, afirmou.
Fábrica da BYD e geopolítica: China, EUA e o Sul Global
A declaração de Lula foi dada durante a segunda cerimônia de inauguração da fábrica da BYD, que ocupa o antigo polo da Ford na Bahia. Com investimento de R$ 5,5 bilhões, o complexo deverá produzir inicialmente 150 mil veículos elétricos e híbridos por ano, com projeção de atingir 600 mil unidades e exportar para países da América Latina.
A cerimônia também serviu de palanque para Lula reforçar sua política externa. Ele se disse confiante na superação de tensões comerciais com os Estados Unidos após conversa com Donald Trump e reafirmou a aliança com a China. “Nós nos tratamos como dois países importantes do sul global e não aceitamos que ninguém meta o dedo no nosso nariz”, declarou o presidente, que se diz amigo de Xi Jinping.
Ao lado de ministros e do governador baiano Jerônimo Rodrigues (PT), Lula celebrou o papel do ex-governador e atual ministro da Casa Civil, Rui Costa, na articulação da vinda da montadora para a Bahia.
