Investidores que apostaram em COEs (Certificados de Operações Estruturadas) atrelados aos títulos de dívida da Ambipar e da Braskem enfrentam perdas expressivas — em alguns casos, de até 93% do valor investido. Os produtos, distribuídos por grandes plataformas como XP Investimentos e BTG Pactual, prometiam retorno com certa proteção, mas desabaram com a piora da situação financeira das empresas emissoras. A frustração entre os investidores reacendeu o debate sobre a real compreensão dos riscos envolvidos nesses papéis complexos e pouco transparentes para o público de varejo.
Os COEs são aplicações que combinam diferentes ativos em uma só estrutura — ações, moedas, taxas de juros e, neste caso, títulos de crédito. O modelo em si permite que investidores se exponham a estratégias sofisticadas, mas os riscos são substanciais, especialmente quando baseados em dívidas corporativas.
O economista e fundador do ICL (Instituto Conhecimento Liberta), Eduardo Moreira, já fez vários alertas sobre esse tipo de investimento. “Eu, sozinho, há 5 anos, digo: o investimento da moda no Brasil é um desastre em potencial: porque os COEs podem ser o pior investimento que você tem para fazer com seu dinheiro”.
Segundo Moreira, as instituições financeiras ganham bilhões, lucrando com o “prejuízo das pessoas”. “Não é plantando alface, tomate, milho, soja – não é produzindo nada”, disse.
Nos casos da Ambipar e da Braskem, gatilhos contratuais de vencimento antecipado foram ativados com a deterioração dos papéis, resultando em perdas severas. Investidores da Ambipar, por exemplo, receberam apenas 6,88% do valor original; já os ligados à Braskem resgataram entre 26,62% e 36,97%.
COEs: transparência, perfil do investidor e regulação sob questionamento
A crise desses investimentos trouxe à tona uma série de lacunas regulatórias e falhas na comunicação com o investidor. A principal delas diz respeito ao conceito de “capital protegido” vendido em alguns desses COEs, já que a garantia depende diretamente da saúde financeira do emissor.
Trocando em miúdos, se a empresa quebra ou entra em recuperação judicial, como no caso da Ambipar, a proteção prometida se torna ineficaz.
Além disso, relatos em plataformas como o Reclame Aqui e o Reddit revelam que muitos investidores foram surpreendidos com as perdas, por não entenderem as cláusulas de vencimento antecipado, os riscos de crédito e a falta de liquidez dos produtos.
Por essa razão, especialistas defendem que a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) reavalie as regras aplicáveis aos COEs, principalmente os de crédito.
A Ambipar, especializada em gestão de resíduos, iniciou o processo para entrar com pedido de recuperação judicial no Rio de Janeiro, após uma disputa com o Deutsche Bank e o agravamento de sua dívida. Já a Braskem, em meio à desaceleração da indústria química global, precisou sacar US$ 1 bilhão de sua linha de crédito para reforçar o caixa. A empresa também teve sua nota de crédito rebaixada por agências de risco, o que gerou mais desconfiança do mercado e impacto direto nos investimentos atrelados aos seus papéis.
Sem cobertura do FGC e, mesmo assim, bilhões negociados
Outro agravante é que esses produtos não são cobertos pelo FGC (Fundo Garantidor de Créditos). Assim, em caso de inadimplência, o investidor não tem como reaver o dinheiro.
Ainda assim, o mercado segue aquecido: segundo a B3, o volume de COEs negociados no Brasil atingiu R$ 90 bilhões em 2024, com crescimento de 16% sobre o ano anterior. Cerca de 15% já são COEs de crédito — justamente o tipo que gerou os maiores prejuízos recentes.
Veja abaixo o vídeo de Eduardo Moreira no qual ele aborda o assunto: