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A Polícia Federal deflagrou, na manhã desta quinta-feira (9), uma nova etapa da Operação Sem Desconto, que investiga um esquema bilionário de fraudes em aposentadorias e benefícios pagos pelo INSS. Esta fase da ofensiva tem como foco empresas envolvidas na estrutura de lavagem de dinheiro do grupo criminoso e busca aprofundar a apuração sobre a participação de servidores e dirigentes do instituto.
Ao todo, estão sendo cumpridos pela operação 66 mandados de busca e apreensão expedidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF). As ações acontecem em São Paulo (45 mandados), Sergipe (12), Amazonas (1), Rio Grande do Norte (1), Santa Catarina (2), Pernambuco (2), Bahia (2) e no Distrito Federal (1). Segundo a PF, os crimes investigados incluem inserção de dados falsos em sistemas públicos, organização criminosa, peculato, corrupção ativa, lavagem de capitais e estelionato qualificado.
De acordo com os investigadores, o objetivo desta fase é aprofundar a coleta de provas e rastrear o patrimônio ocultado por meio de empresas de fachada. Informações obtidas pela TV Globo indicam que três companhias estão no centro da estrutura financeira usada para movimentar os valores desviados.
Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como o ‘careca do INSS’, e o empresário Maurício Camisotti foram presos na primeira etapa da operação (Foto: Reprodução)
Esquema bilionário e a 1ª fase da operação
A primeira etapa da operação foi deflagrada em 12 de setembro, quando a PF prendeu Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, e o empresário Maurício Camisotti. Ambos são apontados como figuras-chave nas fraudes que teriam causado prejuízo estimado em R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024.
Antunes, identificado como lobista e “facilitador” do esquema, teria transferido R$ 9,3 milhões a pessoas ligadas a servidores do INSS entre 2023 e 2024. Já Camisotti é citado como sócio oculto de uma entidade usada para fraudar descontos indevidos nos benefícios de aposentados. Em suas defesas, ambos negam qualquer envolvimento com as irregularidades.
Durante a operação anterior, a PF apreendeu carros de luxo, como Ferrari, Land Rover, Porsche e Mercedes, além de obras de arte, esculturas eróticas e armas. Mandados também foram cumpridos na casa e no escritório do advogado Nelson Wilians, em São Paulo, que afirma colaborar com as autoridades e diz confiar que sua inocência será comprovada.
Como funcionava o golpe
A Controladoria-Geral da União (CGU) e a PF descobriram que associações e entidades de fachada usavam dados de beneficiários obtidos de forma ilícita para cadastrar aposentados sem consentimento. As assinaturas eram falsificadas, e mensalidades indevidas passavam a ser descontadas diretamente dos benefícios.
Muitos idosos só perceberam o golpe ao verificar valores descontados de seus pagamentos. Em alguns casos, uma mesma pessoa chegou a ser “filiada” a várias entidades no mesmo dia, com erros de grafia idênticos nas fichas — um indício claro de fraude em massa.
As investigações também apontam que servidores e dirigentes do INSS recebiam propina para autorizar os descontos fraudulentos. A CGU iniciou a apuração em 2023, no âmbito administrativo, e encaminhou o caso à PF em 2024, após encontrar evidências de crimes.
O que dizem as defesas
A defesa de Maurício Camisotti classificou a prisão como arbitrária e afirmou que o empresário foi impedido de falar com seu advogado no momento da abordagem. Disse ainda que adotará todas as medidas legais para garantir o respeito aos direitos do cliente.
Já a defesa de Nelson Wilians declarou que o advogado “tem colaborado integralmente com as autoridades” e que os valores citados em investigações correspondem à compra lícita de um terreno vizinho à sua residência.
A Polícia Federal reforçou que a Operação Sem Desconto continuará com novas fases e que o objetivo é desarticular completamente a rede de fraudes contra aposentados, considerada uma das maiores já descobertas na história recente do INSS.