Casa EconomiaLobbies do centrão, agro e Bets buscam fugir de taxação e esvaziar MP do IOF

Lobbies do centrão, agro e Bets buscam fugir de taxação e esvaziar MP do IOF

por Ayam Fonseca
0 comentários
lobbies-do-centrao,-agro-e-bets-buscam-fugir-de-taxacao-e-esvaziar-mp-do-iof

Por Cleber Lourenço 

A pressão de grandes setores econômicos — em especial do agronegócio, das fintechs e das casas de apostas — dificulta o avanço da medida provisória que trata da taxação do IOF. O governo se mobilizou desde as primeiras horas desta terça-feira em uma série de reuniões com líderes da base para evitar que o texto, desidratado nas últimas negociações, comprometa a arrecadação prevista pelo Ministério da Fazenda. A preocupação central da equipe econômica é que, caso o texto atual seja aprovado sem mudanças, a arrecadação adicional estimada pela MP seja praticamente anulada.

Segundo membros da articulação política do Palácio do Planalto, o relator, deputado Carlos Zarattini (PT-SP), tem enfrentado uma ofensiva coordenada de diversos segmentos econômicos. Representantes do agronegócio, de plataformas de apostas e do setor financeiro têm atuado com intensidade sobre o Congresso, buscando derrubar dispositivos que ampliariam a taxação.

O resultado mais recente dessa pressão foi a decisão de Zarattini de manter a alíquota das apostas em 12%, um recuo que frustrou a equipe econômica e foi interpretado por parlamentares governistas como uma vitória do lobby empresarial. Na semana passada, em entrevista à CNN, o próprio Zarattini admitiu que “há forte lobby no Congresso contra a taxação” e qualquer tipo avanço no tema.

A medida provisória do IOF faz parte da estratégia do ministro Fernando Haddad para reforçar o caixa do governo e compensar perdas com outras desonerações aprovadas pelo Congresso. A Fazenda avalia que o texto original, que previa aumento gradual da taxação de operações financeiras e de apostas eletrônicas, poderia render bilhões em receitas adicionais. Com as alterações feitas pelo relator, esse montante tende a cair consideravelmente, abrindo espaço para desequilíbrios nas contas públicas e forçando o governo a buscar novas fontes de compensação fiscal.

Deputado Carlos Zarattini (PT-SP) (Foto: Reprodução)

Texto da MP

Fontes próximas às negociações relatam que Haddad tem acompanhado pessoalmente a redação final do texto e mantém diálogo direto com líderes partidários. O ministro tenta garantir que bancos e fintechs sejam incluídos na nova estrutura de arrecadação, evitando que esses setores — que registram lucros recordes — escapem de contribuir de forma mais proporcional. “O lobby do agro, das fintechs e das bets tá insano”, afirmou um dos interlocutores. “Há pressão de todos os lados e pouca disposição de diálogo sobre justiça tributária.”

Além do impacto fiscal, o episódio revela tensões internas na base aliada. Parlamentares próximos ao governo admitem que houve erro de cálculo político após a vitória na votação da nova faixa de isenção do Imposto de Renda. A avaliação é de que o Planalto e a base progressista relaxaram na articulação e na comunicação, permitindo que grupos organizados ocupassem o espaço de debate e influenciassem o relator. “Depois do IR, nosso campo errou. Focou na narrativa das seis vitórias e uma derrota, e esqueceu da MP do IOF”, reconheceu um dos participantes das discussões.

O caso também expõe divergências entre o núcleo político e o econômico do governo. Enquanto Haddad tenta preservar a arrecadação, alguns líderes partidários preferem adotar uma postura mais cautelosa para evitar atritos com setores empresariais que financiam campanhas e mantêm forte presença no Congresso. Um integrante da base afirmou que a resistência à medida não se limita à oposição: “Tem muita gente da própria base que não quer se comprometer com essa votação”.

A Fazenda teme que, se o texto seguir desidratado, o impacto sobre a arrecadação seja expressivo, dificultando o cumprimento das metas fiscais de 2025 e reduzindo a margem de manobra do governo para manter investimentos sociais. Técnicos do ministério calculam que cada ponto percentual retirado do imposto pode representar perda superior a bilhões de reais anuais. Para Haddad, além do aspecto fiscal, o enfraquecimento da MP também afeta a credibilidade do esforço de equilíbrio das contas públicas e sinaliza fragilidade política diante do Congresso.

As conversas continuam em ritmo acelerado, com reuniões programadas para esta semana entre o relator, o ministro e líderes do Congresso. O Planalto aposta que a pressão pública e a mobilização de parlamentares alinhados à política fiscal do governo possam reverter parte das concessões. Ainda assim, interlocutores próximos às negociações admitem que a chance de recompor integralmente o texto original é cada vez menor. O desfecho, avaliam, dependerá do quanto o governo estará disposto a negociar — e até onde o lobby econômico conseguirá manter o cerco sobre o Congresso.

você pode gostar