Casa EconomiaEm meio ao tarifaço dos EUA, Reino Unido quer acordo com o Mercosul

Em meio ao tarifaço dos EUA, Reino Unido quer acordo com o Mercosul

por Adriana Cardoso
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O governo britânico iniciou contatos com o Mercosul com o objetivo de negociar um acordo de livre comércio com o bloco, em especial com Brasil e Argentina, para tentar escapar da crescente tensão global provocada pela política protecionista de Donald Trump nos Estados Unidos. As informações são do comentarista do ICL Notícias Jamil Chade, publicadas em sua coluna no UOL.

Além disso, a iniciativa acontece no momento em que o acordo entre Mercosul e União Europeia avança, após décadas de impasse. Com a saída do Reino Unido da UE, Londres perdeu automaticamente acesso aos tratados comerciais europeus e, agora, busca alternativas para manter competitividade diante de novos arranjos geoeconômicos.

Na semana passada, em entrevista à CNN, o ministro de Comércio do Reino Unido, Sir Chris Bryant, afirmou que “amaria” ver um acordo “forte” com o Mercosul. E que, caso o Brasil sinalize apoio, as negociações podem caminhar com agilidade. “Eu amaria ver um forte acordo de livre comércio entre Mercosul e Reino Unido. Há uma parte de mim pensando: vamos lá, Brasil, você é o maior player nisso. Você realmente quer que isso aconteça? Se sim, nos diga agora, e vamos progredir rapidamente”, disse o ministro. O Brasil ocupa a presidência transitória do Mercosul.

Em meados de setembro, o Mercosul e a EFTA (Associação Europeia de Livre Comércio) — composta por Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suíça — assinaram, no Rio de Janeiro, um acordo de livre comércio entre os dois blocos. A parceria é classificada pelo governo brasileiro como um passo “histórico” e “inovador”, com potencial de impulsionar o comércio, atrair investimentos e fortalecer as relações internacionais com foco em sustentabilidade.

Mercosul é alternativa à perda dos ingleses

Segundo fontes diplomáticas, o gatilho para a ofensiva britânica foi o receio de que produtos do Reino Unido enfrentem desvantagens tarifárias no Brasil e na Argentina, especialmente diante da perspectiva de redução de barreiras para bens europeus. O temor é que produtos franceses e alemães, por exemplo, passem a entrar com tarifas mais baixas, tornando-se mais competitivos do que os britânicos.

Durante visita oficial à América do Sul, o ministro do Comércio britânico realizou consultas preliminares com autoridades brasileiras e argentinas. Londres propôs iniciar um processo formal de negociações e assinou uma série de instrumentos preparatórios, como a declaração de intenções para o reconhecimento mútuo de Operadores Econômicos Autorizados e tratativas para um Acordo de Reconhecimento Mútuo (ARM) em avaliação de conformidade.

Pragmatismo pós-Brexit

Além de mitigar riscos, Londres enxerga uma oportunidade de expansão comercial. Em 2025, o comércio entre Brasil e Reino Unido alcançou 12,3 bilhões de libras esterlinas — um recorde. No entanto, segundo o governo britânico, o potencial ainda está longe de ser explorado, especialmente em áreas como energia limpa, ciências da vida e transformação digital.

Com a Argentina, o comércio bilateral também bateu recorde, somando 2,2 bilhões de libras nos 12 meses até março de 2025. Ainda assim, Buenos Aires figura apenas como o 66º maior parceiro comercial do Reino Unido. Um gesto simbólico que marcou a visita foi o reconhecimento argentino da Indicação Geográfica do uísque escocês, acompanhado da redução de tarifas de importação de 35% para 20%.

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