Por Cleber Lourenço
O presidente da Câmara não apenas mergulhou o país em um vexame institucional: ele se tornou símbolo da arrogância política e da traição ao povo que deveria representar. Não foi erro de percurso, não foi descuido — foi cálculo, decisão e prioridade. Hugo Motta decidiu que blindar parlamentares suspeitos, investigados e até ligados ao crime organizado valia mais do que aliviar a vida da sociedade. E esse gesto não será esquecido.
Foi ele quem ressuscitou a PEC da Bandidagem, quem atropelou pautas urgentes e quem transformou a Câmara em trincheira de autoproteção. Enquanto milhões aguardam a isenção do imposto de renda até 5 mil reais, Motta trancava a pauta. Enquanto famílias precisavam da tarifa social de energia elétrica, ele escolhia negociar um escudo para colegas. Enquanto trabalhadores esperavam o fim da escala 6×1 e o país cobrava um pacote de segurança pública, ele acelerava o privilégio de políticos criminosos. A escolha foi clara: a vida real dos brasileiros ficou em segundo plano diante da ânsia de se proteger e proteger os seus.
O país reagiu. Nas ruas, o recado foi dado em alto e bom som: não aceitamos ser governados por um Congresso que age como quadrilha. Protestos tomaram capitais, artistas e movimentos se somaram, e a pressão atravessou a Praça dos Três Poderes. No Senado, a fatura da confusão armada na Câmara chegou rápido. Davi Alcolumbre expôs a irritação. Otto Alencar repudiou. Senadores de diferentes partidos avisaram que a proposta não passa. A manobra de Motta abriu uma ferida de legitimidade entre as duas Casas e deixou claro que ele não fala em nome do povo, mas de um grupo que teme a Justiça.
Presidente da Câmara, Hugo Motta (Foto: EBC)
E quando a pressão cresceu, o que fez o presidente da Câmara? Fugiu e sumiu.
Hugo Motta deve desculpas ao Brasil. Deve desculpas por ter colocado sua ambição e seu projeto de poder acima de qualquer prioridade social. Deve desculpas por ter jogado no lixo a chance de aprovar medidas concretas que mudariam a vida de milhões. Deve desculpas por tentar transformar a Câmara em um refúgio de criminosos engravatados. Deve desculpas por ter achado que poderia debochar da democracia e não pagar o preço.
E não basta pedir desculpas. Motta deve responder pelo estrago que causou. Porque ao tentar blindar colegas suspeitos, ele se desnudou como cúmplice de um projeto de impunidade. O Brasil não precisa de cúmplices — precisa de líderes. Líderes que sirvam à sociedade, não ao crime. Motta escolheu o lado errado da história e agora carrega, sozinho, a marca de quem ousou trair a democracia em troca de autoproteção.