Casa EconomiaMilionário, prefeito de Camboriú ‘anti-Lula’ é a favor da taxação de ricos pela isenção do IR

Milionário, prefeito de Camboriú ‘anti-Lula’ é a favor da taxação de ricos pela isenção do IR

por Amanda Miranda
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“Quem vai pagar a conta? Quem ganha. Quem ganha mais paga a conta”.

Com essa frase, o prefeito de Camboriú (SC), Leonel Pavan (PSD), tradicional adversário do PT desde o tempo em que era do PSDB, então principal opositor da sigla, surpreendeu ao se colocar a favor da isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil e da tributação de quem ganha mais, em entrevista que viralizou nas redes sociais.

Não é todo dia que um milionário com pensão vitalícia se apresenta como paladino da justiça tributária. Pavan declarou cerca de R$7,4 milhões em patrimônio nas eleições de 2024 e só em pensão especial como ex-governador de Santa Catarina acumulou quase R$500 mil em 2025 em salário bruto e mais de R$3 milhões líquidos ao longo dos últimos dez anos. Em Santa Catarina, pelo menos cinco ex-governadores usufruem da mesma pensão, hoje considerada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal: além de Pavan, Jorge Bornhausen, Esperidião Amin, Paulo Afonso Vieira e Raimundo Colombo.

“Eu acho uma boa essa isenção, porque o que menos tem não vai pagar imposto.Mas quem vai pagar? Quem ganha mais. Por que quem tem a isenção de imposto vai fazer o quê? Comprar comida. Quem vende comida? Os grandes supermercados e os grandes agricultores e o agronegócio”, disse, acrescentando à lista de beneficiados grandes empresas de vestuário, móveis e eletrodomésticos populares no Estado – uma delas de propriedade de um aliado ultra bolsonarista, Luciano Hang, apoiador do prefeito.

Apesar de se dizer “terceira via”, Pavan já afirmou que contra Lula vota em qualquer um, o que torna seu apoio à pauta mais importante do governo federal ainda mais curiosa. Apesar da frase de efeito dita num passado não tão remoto sobre o presidente, nesta quinta-feira (18) esperou para ser fotografado com ele, sorrindo, em Brasília, em evento do PAC Seleções que contemplou a cidade que ele governa.

O atual prefeito de Camboriú – não confunda com Balneário Camboriú, governada pela filha dele, Juliana Pavan (PSD) – tem histórico de cargos na política local. O mais alto deles foi quando chegou ao governo de Santa Catarina após renúncia de Luiz Henrique da Silveira, do qual era vice, em 2010. Além disso, foi deputado, senador e tem vasta trajetória política na cidade vizinha, associada a onda bolsonarista que toma conta do Estado desde 2018.

Na terra onde hoje o filho mais novo de Jair Bolsonaro é opositor de todas as pautas da filha dele, Pavan começou como emedebista e foi eleito prefeito pelo PDT. Deixou o legado para Juliana, que trata Jair Renan como um alienado político, mesmo se dizendo de direita. “Quando se posiciona eu não consigo entender o que ele fala (…)Tem que buscar cada vez mais capacitação, conhecimento (…) Falta um pouquinho mais de foco aqui no trabalho”, disse, em entrevista divulgada essa semana pelo jornalista Upiara Boschi.

Taxação

O projeto celebrado pelo prefeito anti-Lula e que ainda não foi ao plenário por sucessivas armações de extremistas e do Centrão prevê a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. “É uma grande jogada do governo. Os meus funcionários agradecem porque eu sou construtor, eu tenho muitos funcionários. Agradecem porque aquele Imposto de Renda que eles não vão pagar, eles vão poder usufruir num bem familiar”, disse. Na boca de um político que acumula milhões, a defesa da taxação dos ricos soa menos como ideologia e mais como contradição.

A proposta do governo foi apresentada em março pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e passou pela Comissão Especial em julho. Nela está prevista uma compensação a partir da tributação mínima para altas rendas. Além de ser pensionista especial com alto salário do governo, Pavan é empresário, declarou aplicações ao Tribunal Regional Eleitoral e recebe salário líquido de R$15.806,31 como prefeito, cargo que conquistou vencendo o PL de Jair Bolsonaro.

Na tributação mínima para altas rendas, a ideia é somar a renda recebida no ano, incluindo salário, aluguéis, dividendos e outros rendimentos. Se essa soma for menor que R$ 600 mil, não há cobrança adicional. Na tramitação do projeto na Comissão Especial da Câmara, bolsonaristas e o Novo tentaram derrubar a taxação dos contribuintes mais ricos, mas foram vencidos.

Divergência no partido

Segundo microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) divulgados em agosto, Santa Catarina foi o estado com o melhor índice de distribuição de renda  no país no primeiro semestre deste ano. Os dados consideram valores do rendimento mensal recebidos em todos os trabalhos por pessoas com mais de 14 anos de idade.

Apesar da animação de Pavan, a posição dele como entusiasta da isenção de imposto não é majoritária entre lideranças catarinenses. O prefeito de Florianópolis, Topázio Neto (PSD), que preside a entidade que congrega os municípios do Estado, já expôs ser contra a proposta.  “Imagina os nossos municípios sem essa arrecadação que vem do Imposto de Renda”, disse, em uma reunião realizada em março.

Reconhecido e aplaudido pela trajetória como empresário, ele esqueceu de comentar que, conforme o projeto do governo, a tributação mínima das altas rendas possibilitará ampliação de receita para compensar a redução da arrecadação pela União.

Apesar de estarem no mesmo partido, Pavan e Topázio estão em lados distintos quando o assunto é 2026: enquanto o prefeito de Florianópolis apoia a reeleição do bolsonarista Jorginho Mello, Pavan participou recentemente de um evento de apoio a João Rodrigues, atual prefeito de Chapecó e pré-candidato apoiado também pelo presidente da sigla e grande articulador do Centrão, Gilberto Kassab. Nenhum dos dois, no entanto, é minimamente próximo da agenda de esquerda. Pelo menos não eram. A reportagem tentou contato com Leonel Pavan por meio da sua assessoria, mas não houve retorno.

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