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Como a volta da Petrobras ao mercado de gás de cozinha pode afetar preços e concorrência

por Adriana Cardoso
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A Petrobras está prestes a entrar novamente no mercado de distribuição de gás liquefeito de petróleo (GLP), popularmente conhecido como gás de cozinha. A medida foi aprovada em agosto pelo conselho de administração da estatal e marca uma mudança na estratégia adotada durante o governo Jair Bolsonaro (2019-2022), quando a empresa vendeu a Liquigás como parte de seu programa de desinvestimentos.

Segundo a companhia, o retorno ao mercado de gás de cozinha ainda está em fase inicial e integra seu plano estratégico para atuar em negócios “rentáveis e com soluções de baixo carbono”. No entanto, o anúncio levantou dúvidas no mercado sobre os reais objetivos da decisão — se de fato econômicos ou de natureza política —, especialmente em meio a críticas do presidente Lula sobre o alto custo do botijão para o consumidor final.

Em maio, o presidente Lula criticou publicamente a discrepância entre o preço de saída do gás das refinarias (R$ 37) e o valor final pago pelo consumidor, que pode ultrapassar R$ 140 em alguns estados.

Contudo, a Petrobras afirma que a decisão visa explorar negócios lucrativos e parcerias no setor de distribuição.

Por que a Petrobras saiu do mercado de gás de cozinha?

Até 2020, a estatal atuava na distribuição de gás LP por meio da Liquigás, vendida por R$ 4 bilhões para um consórcio liderado pela Copagaz. A venda foi justificada pela necessidade de redução de dívidas e foco nos negócios de exploração e produção de petróleo — setores de maior retorno financeiro.

Com uma participação de mercado de 21,4% à época, a Liquigás estava presente em todo o país. Apesar de lucrativa, a operação oferecia margens inferiores às do pré-sal, o que levou à decisão de desinvestimento no governo anterior.

Preço do botijão pode cair?

Um estudo da EPE (Empresa de Pesquisa Energética) apontou que as margens líquidas das distribuidoras cresceram 188% entre 2020 e 2023 — sinalizando espaço para redução de preços ao consumidor. Entretanto, há dúvidas sobre a sustentabilidade dessa estratégia.

Há estimativas indicando que a reentrada da Petrobras no setor de gás de cozinha pode exigir investimentos de até US$ 7 bilhões (cerca de R$ 38 bilhões), especialmente se a estatal optar por adquirir ativos de distribuidoras já atuantes, como a Vibra.

Hoje, o mercado de distribuição de GLP é concentrado: quatro empresas dominam cerca de 88% do setor.

Ainda não está claro se a Petrobras voltará apenas como distribuidora ou também atuará na venda direta ao consumidor, com entregas de botijões e revendas próprias. A depender do modelo, os impactos sobre o mercado podem variar significativamente.

Essa definição será crucial para medir os efeitos do reingresso dela no setor, tanto sobre os preços quanto sobre a competitividade e a estrutura de mercado no setor de gás de cozinha.

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