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A elevação das tarifas de importação de produtos brasileiros pelos Estados Unidos para 50% terá impactos significativos no PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro, segundo projeções da Secretaria de Política Econômica (SPE), do Ministério da Fazenda divulgadas na quinta-feira (11). O órgão estima que a economia brasileira sofrerá uma redução de 0,2 ponto percentual entre agosto de 2025 e dezembro de 2026, como efeito direto da medida protecionista norte-americana.
O governo federal, no entanto, prepara um plano de contingência que deverá mitigar cerca de metade desse impacto, limitando a queda do PIB a 0,1 ponto percentual no mesmo período. A SPE não divulgou estimativas para o efeito anual da medida.
Além do PIB, no Boletim Macrofiscal de setembro, a SPE projeta que o aumento tarifário também afetará o mercado de trabalho. A projeção da secretaria é de que o desemprego aumente em 0,1 ponto percentual, o que representa cerca de 138 mil postos de trabalho a menos, principalmente no setor industrial. Com a implementação do plano Brasil Soberano, essa perda cai para cerca de 65 mil vagas.
“O estudo reforça a importância de políticas de diversificação de mercados e mecanismos para apoiar o setor produtivo como instrumentos para reduzir a vulnerabilidade da economia brasileira a choques externos”, afirmou Rafael de Azevedo Ramires, um dos coordenadores do boletim, durante a apresentação do relatório.
Segundo ele, os cálculos foram feitos utilizando modelos da agência francesa de desenvolvimento, que simulam variações na demanda por bens e serviços brasileiros e seus efeitos em variáveis macroeconômicas como produto, emprego e inflação.
PIB menor: choque externo e cenário de incerteza
A SPE também prevê que o impacto das tarifas terá efeito misto sobre a inflação. De um lado, a desvalorização cambial tende a pressionar os preços internos. Por outro, o redirecionamento de parte das exportações ao mercado doméstico aumentaria a oferta de bens, o que tende a conter os preços. A estimativa final é de uma leve deflação de 0,1% entre agosto e dezembro de 2025.
Guilherme Mello, secretário de Política Econômica. Crédito: Valter Campanato/Agência Brasil
Guilherme Mello, secretário de Política Econômica, afirmou que o novo cenário global elevou significativamente o índice de incerteza econômica. Ele comparou o atual momento com o fim dos anos 1920, período de instabilidade causado pelo colapso do padrão ouro.
Mello também comentou as expectativas em torno da política monetária dos Estados Unidos. Segundo ele, caso o Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) opte por cortar os juros, o movimento pode enfraquecer o dólar e aliviar pressões sobre as moedas latino-americanas.
“Dólar mais fraco, outras moedas mais fortes e expectativa de queda de taxa de juros maior, o que impacta decisões sobre juros em outros países, em particular na América Latina”, resumiu.
O Boletim Macrofiscal também trouxe uma revisão das projeções econômicas da SPE. Com a desaceleração em curso, a previsão de crescimento do PIB para 2025 foi ajustada de 2,5% para 2,3%. A estimativa de inflação medida pelo IPCA para 2025 também recuou levemente, passando de 4,9% para 4,8%.