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Porcaria engaja. Você já deve ter visto aqueles vídeos “cringe” em compilações com nomes como “marketing brasileiro”, em que alguém de capacete tomando uma tijolada na cabeça para falar de um produto, montagens de memes cortando para vendedores tropeçando loja adentro, emendando na propaganda.
Vergonha alheia virou estratégia de negócios porque descobriram que constrangimento gera mais audiência que campanhas tradicionais. Você assiste, sente pena, compartilha a tosqueira e a coisa viraliza. Funciona.
A lógica é matemática e cruel. Plataformas remuneram engajamento, não qualidade. Fazer um vídeo educativo, explicar algo relevante, pesquisar um assunto dá trabalho e pouco retorno financeiro. É “melhor” produzir palhaçada em 10 minutos e monetizar com a viralização. Por isso marcas investem em funcionários fazendo bobagem dentro de lojas, porque algoritmos não sabem distinguir admiração de chacota, só contabilizam cliques.
O problema aumentou com a chegada do AI slop, a Gororoba Digital (falo bastante sobre este tema no meu podcast, RESUMIDO, clique aqui para ouvir). Criadores produzem entrevistas falsas com personagens gerados por IA, geram personagens inexistentes falando besteiras e faturam até US$ 5 mil por mês. Virou um mercado, gente oferecendo cursos de prompts por US$ 15, clipes customizados por US$ 300, agências produzindo spots para grandes eventos em 72 horas gastando apenas US$ 2 mil. Máquinas competindo com humanos na produção da vergonha artificial.
Essa corrida cria um incentivo perverso. Enquanto criadores humanos lutam para ser vistos, bots inundam feeds com conteúdo sintético. O sistema recompensa quem consegue ser mais bizarro, mais rápido, mais constrangedor. Qualidade demora, custa caro e pode não viralizar. Produzir lixo é rápido, barato e os algoritmos adoram.
E a culpa também é nossa, que assistimos e damos risadas. Quando o incentivo financeiro premia quem inunda a internet de porcaria em vez de quem produz valor, talvez seja hora de questionar que tipo de entretenimento estamos financiando com nossa atenção.